A troca de acusações entre Washington e Pequim sobre a proveniência e o propósito dos objetos voadores não identificados vem adensar a tensão diplomática registada desde a visita de Nancy Pelosi a Taiwan em agosto de 2022.
O que são balões de espionagem e observação?
Os balões de espionagem e observação são balões leves a gás, geralmente de hélio, que elevam equipamentos de observação como câmaras e sensores de longo alcance. Normalmente são lançados do solo e enviados para a atmosfera, onde podem atingir alturas entre 18 mil e 45 mil metros, altitude muito acima das rotas de voo de aviões comerciais. Estes objetos situam-se numa camada da atmosfera chamada mesosfera. Uma vez lançados, aproveitam tanto as correntes de ar, como bolsas de ar pressurizadas inseridas no equipamento, funcionalidade que permite regular a rota do balão.
História do uso de balões para fins militares
Os primeiros usos destes objetos para fins militares remontam às Guerras Napoleónicas, em que as tropas francesas se terão servido de um balão de ar quente para vigiar tropas austríacas. Neste contexto há até uma breve descrição destes aparelhos como ferramentas de observação militar na obra de Lev Tolstoi “Guerra e Paz”. Estes objetos terão sido usados também durante a Guerra Civil Americana.
No século XX, especula-se que um programa militar americano com recurso a balões de alta altitude possa estar ligado ao incidente de Roswell, no Novo México, em 1947, que viria a suscitar uma vaga de paranóia e especulações sobre objetos voadores não identificados com origem extraterrestre.
Já no século XXI, entre outros casos, os balões de observação foram utilizados no âmbito da cooperação militar entre os EUA e o Afeganistão durante as eleições de 2009.
Propósito dos balões de espionagem
Os balões foram os primeiros mecanismos de vigilância militar aérea. Estas aeronaves proporcionaram, sobretudo, às tropas do XIX uma vantagem inigualável de recolha de informações sobre o inimigo. No século XX é notório o uso de balões incendiários durante a Segunda Guerra Mundial por parte dos japoneses, aliados da Alemanha hitleriana, quando ambicionava atingir território americano.
Atualmente, os balões de espionagem continuam a ser úteis na medida em que, ao contrário dos satélites, estes podem assumir posições estacionárias e observar o mesmo local durante muito tempo. A posição dos balões na mesosfera permite que não existam interferências com as rotas da aviação que circulam a altitudes mais baixas, ou com as órbitas dos satélites, que têm trajetórias em pontos mais elevados da atmosfera.
Eventos recentes
No dia 28 de janeiro, dá-se o primeiro avistamento do balão de observação chinês nas ilhas Aleutas, no Estreito de Bering, runo ao Alasca. Este viria a ser abatido no dia 4 de fevereiro ao largo da Carolina do Sul, nas águas do Atlântico, quando, segundo as autoridades americanas, a queda dos destroços já não representaria um risco para as populações.
Seis dias depois, a 10 de fevereiro, um segundo objeto voador não identificado é abatido em Deadhorse, no norte do Alasca por este representar um perigo à aviação civil.
A 11 de fevereiro, autoridades americanas abatem outro OVNI em Yukon, localidade remota no oeste do Canadá, sob indicações de Justin Trudeau, o primeiro-ministro canadiano.
A 12 de fevereiro, autoridades americanas abatem um quarto OVNI sobre o Lago Huron, no estado do Michigan, situado na fronteira entre os EUA e o Canadá por, mais uma vez, este objeto ter o potencial de prejudicar o normal funcionamento das rotas comerciais.
O que dizem os EUA
O balão chinês abatido no dia 4 de fevereiro ao largo do estado da Carolina do Sul é, segundo as autoridades americanas, um dispositivo de vigilância aérea chinês. Este equipamento estaria apetrechado de alta tecnologia, capaz de detetar comunicações e recolher informações junto de bases militares americanas. Neste sentido, os EUA cancelaram a viagem do secretário de Estado, Antony Blinken, à China, que estava marcada para os dias 5 e 6 de fevereiro. Adicionalmente, impuseram sanções a seis entidades chinesas ligadas ao alegado programa de vigilância global de que este balão faria parte. As empresas foram visadas pelo “seu apoio aos esforços de modernização militar da China, especificamente os programas aeroespaciais do Exército Popular de Libertação”.
O que diz a China
A China já admitiu que o balão lhe pertence, todavia, reiterou que este objeto se tinha extraviado e que era um aparelho civil usado para fins de pesquisa meteorológica. Segundo o Washington Post, os EUA estão, alegadamente, a examinar a possibilidade de o balão chinês ter sido empurrado para fora da rota prevista por ventos fortes quando entrou no espaço aéreo dos EUA.
A China também acusa os EUA de terem o seu próprio programa militar com recurso a balões de espionagem. “Os EUA lançaram um grande número de balões de alta altitude e têm continuado a conduzir operações em todo o mundo desde Maio passado [2022]. Sem a aprovação das autoridades competentes na China, estes balões voaram ilegalmente sobre o espaço aéreo chinês pelo menos dez vezes, incluindo sobre a Região Autónoma de Xinjiang [no Noroeste da China] e a Região Autónoma de Xizang [no Tibete]”, afirmou Wang Wenbin, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, numa conferência de imprensa na quarta-feira.
Dia 5 de fevereiro, autoridades militares colombianas confirmaram a presença de um balão de observação no espaço aéreo da sua costa atlântica. De acordo com o Executivo de Bogotá, o objeto teria as mesmas características que o balão abatido no dia anterior nos Estados Unidos.
As autoridades da província chinesa de Shandong anunciaram a deteção de um OVNI perto da costa, no Mar Amarelo. O jornal chinês em língua inglesa Global Times acrescenta que o exército vermelho se prepara para abater o objeto, tendo já emitido um aviso aos pescadores da área que adotem medidas de proteção.