“Fomos abanados como um berço. Estávamos nove em casa. Dois dos meus filhos ainda estão nos escombros, estou à espera deles”. O testemunho desta mulher, a apontar para as ruínas de um edifício que tinha sete andares, com ferimentos na cara e uma fratura no braço, foi um dos recolhidos esta manhã pela agência Reuters no sudeste da Turquia, onde um terramoto de magnitude 7,8 na escala de Richter provocou, pelo menos, 2300 mortos. O abalo foi um dos mais fortes registados nos últimos 100 anos e fez-se sentir igualmente (e fez vítimas) na Síria. De acordo com a agência de notícias AFP, o sismo foi sentido também no Líbano e Chipre.
O Presidente turco, Tayyip Erdogan, fala em mais de 5 mil feridos e recusa-se a estimar o quanto pode subir o balanço do número de mortos: vai em 2300 mas os esforços de busca e salvamento continuam. “Todos estão a entregar-se de corpo e alma a esses esforços apesar de ser inverno, do tempo frio e de o terramoto ter acontecido durante a noite, o que torna tudo mais difícil”, garante o Presidente. Ainda de acordo com a estimativa de Erdogan, quase 3 mil edifícios colapsaram.
Os repórteres da Reuters em Diyarbakirno, onde ruiu o prédio da testemunha que aguardava o resgate dos dois filhos, dão conta do trabalho de dezenas de pessoas que vasculham os destroços em busca de sobreviventes. De vez em quando erguem as mãos a pedir silêncio, na esperança de ouvir sinais de vida entre a destruição.
“É como o apocalipse”
Também da Síria chegam relatos impressionantes, como os que dizem respeito a dois edifícios adjacentes, em Aleppo, que colapsaram horas depois do abalo. Um monte de cimento, ferros e roupas ocupam o espaço onde se encontrava outro prédio na cidade Jandaris, ocupada pelos rebeldes, também na província de Aleppo. “Estavam 12 famílias ali debaixo. Nenhuma saiu. Nem uma”, conta um jovem, com a mão ligada e o choque estampado no rosto.
“É como o apocalipse”, resume o sírio Abdul Salam al Mahmoud, e Madevi Sun-Suon, o porta-voz do gabinete das Nações Unidas para os assuntos humanitários na Síria, anui: “Temos lidado com tempestades de neve e outros eventos climatéricos mas nada à escala de um sismo desta magnitude. É mais uma em cima de todas as camadas de sofrimento.”
Da Síria chegam ainda imagens das equipas de resgate a procurar sobreviventes entre chuva forte, enquanto os residentes de várias cidades pegaram nos carros para evacuar a zona, com receio dos desabamentos.