Em declarações aos jornalistas após participar num Conselho de ministros da Defesa da UE, Helena Carreiras disse que os 27 estavam justamente a conversar, por videochamada, com o seu homólogo ucraniano, Oleksiy Reznikov, quando foram informados dos bombardeamentos russos à capital, Kiev, que viriam a ser seguidos de outros a Lviv (oeste) e Kharkiv (nordeste).
“Naturalmente [foi] motivo de apreensão, parecem ser de facto bombardeamentos muito sérios, talvez dos mais sérios desde o início da guerra”, comentou.
A ministra de Defesa acrescentou então que, “em qualquer caso, o ambiente foi de congratulação com os avanços da Ucrânia, mas também de não subvalorizar aquilo que são os desafios e a capacidade que a Rússia tem, e que estará justamente a procurar reforçar, de se reorganizar”.
“A sensação que temos é que, de facto, estamos a assistir a um momento de recomposição, de regeneração de forças, potencialmente, e que é preciso estar atento e continuar o apoio à Ucrânia”, defendeu.
A ministra especificou que esse apoio deve prosseguir “tanto no plano material, que é muitíssimo importante e decisivo para uma possível vitoria da Ucrânia, como também no plano das narrativas”, designadamente a forma como se explica às próprias opiniões públicas “por que é que é importante continuar a apoiar a Ucrânia”, no que isso representa em termos de defesa dos valores europeus, soberania, independência e a possibilidade de os países terem a sua integridade territorial e liberdade asseguradas.
Na reunião de hoje participou também, no almoço de trabalho, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, que à entrada para a reunião também se congratulou com os progressos alcançados pelas forças ucranianas, mas alertando para o “erro” que seria “subestimar a Rússia”.
“Todos saudamos os progressos que as forças ucranianas fizeram nos últimos dias, em particular com a libertação de Kherson. Tal deve-se à bravura e coragem das forças ucranianas. Ao mesmo tempo, acho que é importante que não cometamos o erro de subestimar a Rússia”, advertiu o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Stoltenberg observou que “a Rússia mantém capacidades militares significativas, um elevado número de tropas”, e já foi possível constatar que “a Rússia está disposta a sofrer elevadas perdas” durante esta sua agressão militar à Ucrânia.
Dois edifícios residenciais foram hoje atingidos num novo ataque russo em Kiev, indicou o presidente do município da capital da Ucrânia, enquanto as sirenes antiaéreas foram ativadas em todas as regiões do país, de acordo com responsáveis da defesa.
Este ataque a Kiev atribuído ao exército de Moscovo surge alguns dias após a retirada das forças russas de Kherson, sul da Ucrânia, e em plena cimeira do G20 (grupo das economias mais desenvolvidas e emergentes) na Indonésia.
Já da parte da tarde, também as cidades ucranianas de Lviv e Kharkiv foram alvo de bombardeamentos, indicaram os respetivos presidentes da câmara, sem fornecer ainda dados sobre vítimas.
Cortes de eletricidade de emergência ou em consequência dos bombardeamentos verificam-se, neste momento, em várias regiões da Ucrânia, segundo as autoridades locais.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas — mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,8 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 265.º dia, 6.557 civis mortos e 10.074 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
ACC // JPS