Quase dois anos depois de ter saído da Casa Branca, a sombra de Trump ainda paira fortemente sobre o Partido Republicano e têm sido muitos os candidatos ao Congresso que procuram o patrocínio do ex-Presidente, apesar de este estar sob várias investigações judiciais, seja por alegadamente ter retirado documentos confidenciais do Governo ou por suspeita de fraude fiscal e bancária.
A influência de Trump nas próximas eleições intercalares, marcadas para 08 de novembro, traz um outro risco: depois de o ex-Presidente ter rejeitado os resultados das eleições presidenciais de 2020, muitos candidatos por ele apoiados também já começam a avisar que podem vir a não aceitar o veredito dos eleitores, o que pode provocar o caos político.
Felizmente para os democratas, os republicanos estão muito divididos, com o líder do partido no senado, Mitch McConnell, a criticar os candidatos apoiados por Trump, nomeadamente por muitos deles estarem a investir nesse ambiente de suspeita sobre o processo eleitoral.
Esse ambiente de suspeição interessa aos republicanos, e especialmente a Trump, numas eleições que também são vistas como uma espécie de referendo ao atual Presidente e ao seu desempenho na Casa Branca.
Para contrariar esta estratégia, os candidatos democratas estão a insistir na fórmula de desacreditar as teorias de conspiração à volta dos resultados eleitorais (realçando as conclusões das comissões de inquérito ao ataque ao Capitólio, onde Trump e os seus apoiantes saíram muito mal vistos, e onde o ex-Presidente poderá ainda vir a sentir dificuldades acrescidas, sendo obrigado a prestar declarações sob juramento).
Por outro lado, os democratas procuram desviar o debate para o campo das medidas sociais, elogiando a forma como Biden e a sua equipa está a procurar travar os sinais de queda da economia, em particular apoiando os mais desfavorecidos, e o investimento em infraestruturas, com pacotes bilionários.
O combate ao crime violento, as alterações à lei eleitoral para evitar discriminar minorias, e o direito universal ao aborto são outros dos temas que os candidatos democratas procuram destacar, sabendo das debilidades dos seus opositores em diversos setores do eleitorado, mesmo nos estados mais conservadores.
Não foi por acaso que, nos últimos dias, o Presidente em exercício, Joe Biden (que já está no terreno a fazer campanha pelos candidatos democratas), apareceu em comícios com um forte discurso em defesa do aborto, dirigindo-se especialmente à consciência dos eleitores.
“Se querem proteger o direito a uma mulher decidir por si mesma, então devem ir votar!”, disse Biden, no palco de um comício no estado de Washington.
Em contrapartida, os republicanos apostam em descredibilizar a estratégia económica de Biden, salientando o despesismo das suas medidas e, em particular, a sua intenção de aumentar impostos que podem afetar o bem-estar das famílias e a capacidade de recuperação das empresas.
Mas os republicanos também jogam as suas ‘cartas’ no campo da violência urbana, um tema que está a dominar a pré-campanha eleitoral que já arrancou, com os seus candidatos a lembrarem que há vários dos seus opositores que defendem um corte nos orçamentos das forças policiais.
Estes temas são importantes para os candidatos ao Congresso, mas também para os candidatos aos 36 lugares para governadores que estarão em jogo nas eleições de novembro.
Algumas dessas corridas eleitorais estão a ser acompanhadas com particular atenção a partir de Washington, pelos sinais que podem fornecer para as eleições presidenciais de 2024.
Uma das campanhas mais mediáticas é a do Arizona, onde a republicana Kari Lake defronta a democrata Katie Hobbs, que foi uma das vozes mais ativas a denunciar e condenar as tentativas de Trump de contestar os resultados das eleições presidenciais de 2020, tornando-se um dos alvos políticos preferidos do ex-Presidente e do seu partido.
Uma vitória de Hobbs será sempre lida como uma derrota pessoal de Trump, que se tem esforçado em ajudar a candidatura de Lake.
Também o lugar de governador na Florida pode ser relevante, neste caso para perceber se o republicano, Ron DeSantis, consegue ser reeleito e se essa sua eventual vitória o eleva ao estatuto de candidato presidencial, fazendo frente a Trump nessa corrida interna.
Na Florida, também está a centrar atenções a corrida eleitoral para o senado entre o republicano Marco Rubio (várias vezes candidato a candidato presidencial e uma figura relevante no seu partido) e o democrata Val Demings.
A verdade é que, no dia seguinte às eleições intercalares de novembro, os analistas políticos vão começar a falar das presidenciais de 2024, em particular se os democratas sofrerem uma derrota.
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