O escritor britânico de origem indiana Salman Rushdie foi ontem operado a vários ferimentos e encontra-se ligado ao ventilador. Com lesões no fígado e num braço, o autor pode perder um olho, na sequência do ataque com faca que sofreu esta sexta-feira, 12, quando se preparava para iniciar uma palestra em Nova Iorque.
“As notícias não são boas”, informou o seu agente num email enviado ao jornal The New York Times. “Provavelmente, o Salman vai perder um olho; os nervos do seu braço foram cortados; e o seu fígado foi esfaqueado”, detalhou Andrew Wylie, acrescentando que Rushdie tinha sido ligado ao ventilador e não conseguia falar.
Depois dos primeiros socorros prestados ainda no palco da Instituição Chautauqua, um centro cultural situado no Oeste do estado de Nova Iorque, o escritor de 75 anos foi transportado de helicóptero para o hospital, onde foi submetido a cirurgias durante várias horas. O seu estado de saúde é considerado estável. Sobre ele pende, desde 1989, uma sentença de morte (fatwa) decretada pelo então líder religioso do Irão, ayatollah Rouhollah Khomeini, em resposta à publicação do livro “Os Versículos Satânicos”, visto como uma “blasfémia” pelos fundamentalistas islâmicos.
Desde então, Salman Rushdie viveu escondido no Reino Unido, rodeado de segurança, durante cerca de uma década, até voltar a sentir-se seguro para reaparecer em público e a dar entrevistas – como esta, em 2016, à VISÃO. Ícone da liberdade de expressão, há já vários anos que fazia uma vida mais ou menos normal em Nova Iorque, apesar de, ao longo dos tempos, a ameaça à sua vida ter sido renovada.
O governo do Irão já se tinha demarcado há muito da ordem de Khomeini, mas o sucessor deste como líder supremo (ainda no ano de 1989), Ali Khamenei, nunca a anulou. Está por apurar se a motivação de Hadi Matar, o homem de 24 anos que esfaqueou Rushdie e que foi imediatamente detido no local, está relacionada com a fatwa ordenada antes mesmo do seu próprio nascimento.