O maior narcotraficante do Brasil (e um dos maiores do mundo), Sérgio Roberto de Carvalho, detido, na passada terça-feira, em Budapeste, na Hungria, na sequência de uma operação que envolveu várias forças policiais, entre as quais a Polícia Judiciária (PJ), foi esta quinta-feira presente a juiz na Hungria, numa sessão em que o seu advogado comunicou que o detido não autoriza ser extraditado – Brasil, Estados Unidos da América e Espanha podem vir a formalizar esse pedido.
Caso, porém, não o consiga evitar, Sérgio Roberto de Carvalho pediu ao tribunal que seja aplicada uma norma que lhe permita ser julgado no Brasil, mas apenas pelos delitos que constam no pedido de extradição apresentado pelas autoridades daquele País.
O juiz húngaro esclareceu, aliás, que esta detenção aconteceu na sequência de um “alerta vermelho” da Interpol, emitido por um tribunal brasileiro, em novembro de 2020. De acordo com essa notificação, o Major Carvalho – como é conhecido – é acusado de ser o responsável pelo tráfico de 45 toneladas de cocaína do Brasil para a Europa, entre 2017 e 2019, e de ter branqueado milhões de dólares através de diversas empresas fictícias.
O magistrado estendeu, para já, como limite máximo para a sua detenção na Hungria, o dia 2 de Agosto – data limite para o pedido de extradição ser apresentado; caso contrário, Sérgio Roberto de Carvalho será libertado. A decisão final fica nas mãos da ministra da Justiça húngara, Judit Varga.
Brasil acelera extradição
As autoridades brasileiras estão, neste momento, a preparar toda a documentação, pedida pela Hungria, necessária para concretizar, o mais rapidamente possível, a extradição. Segundo apurou a VISÃO, junto de fontes próximas do processo, o pedido está, neste momento, a ser traduzido para húngaro, e as autoridades brasileiras pretendem que este passo esteja concluído, o mais tardar, até 20 de Julho.
A VISÃO também sabe que, para além das habituais formalidades, as autoridades húngaras pediram informações adicionais ao Brasil sobre as condições das prisões naquele País da América do Sul.
Conhecido como “Escobar Brasileiro” (numa referência ao famoso narcotraficante colombiano Pablo Escobar), Sérgio Roberto de Carvalho usava um passaporte mexicano falso, com o nome de Guilhermo Diaz Flores, e foi detido quando tomava o pequeno-almoço, no hotel em que se encontrava alojado, localizado a 15 minutos (a pé) do Parlamento de Budapeste, junto às margens do Danúbio.
O Major Carvalho foi abordado por elementos da Interpol, da agência norte-americana DEA – entidade que combate o narcotráfico – e da polícia húngara, ofereceu resistência, tendo sido dominado e algemado no solo. Num primeiro interrogatório, terá negado ser o famoso narcotraficante, mas as impressões digitais confirmariam a sua identidade. No quarto de hotel em que estava instalado foram ainda encontrados 845 mil euros em notas.
Passado em Portugal
O ex-major da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul, no Brasil, terá liderado, durante décadas, uma rota de tráfico de cocaína que ligava a América do Sul e a Europa, com Portugal a servir (em muitas ocasiões) como “porta de entrada” para o Velho Continente, como contou a VISÃO numa grande reportagem de investigação publicada em março de 2021.
Sérgio Roberto de Carvalho, que se encontrava a monte desde 2020, terá chegado a viver escondido em Lisboa – onde terá sido proprietário de escritório e apartamentos, na Avenida da República. Localizado pela polícia portuguesa, terá conseguido fugir, deixando para trás quase 12 milhões de euros em notas, guardados em malas no porta-bagagens de uma carrinha estacionada na garagem de um apartamento de luxo na Avenida da Liberdade, situação que continua em investigação.
Entre as muitas suspeitas que recaem sobre si (incluindo o homicídio de opositores e testemunhas), Sérgio Roberto de Carvalho foi também associado ao caso do avião Dassault Falcon 900, propriedade da Omni, empresa privada de transporte aéreo sediada no Aeródromo de Cascais.
No dia 10 de fevereiro de 2021, no interior da fuselagem da aeronave, foi encontrado mais de meia tonelada de cocaína, numa altura em que o avião já se preparava para voar entre Salvador e Tires – da lista de passageiros, recorde-se, constava o nome do ex-presidente do Boavista João Loureiro (que, entretanto, seria ilibado pela investigação da Polícia Federal brasileira).