A escola primária em Uvalde, que foi palco de um dos tiroteios mais mortais desde 2012 nos EUA, provocando 21 mortes, será demolida, anunciou, esta terça-feira, numa reunião do conselho de moradores da cidade, Don McLaughin, presidente da Câmara Municipal. “Do que sei – e eu tive esta discussão com o superintendente – a escola será demolida. Não se pode pedir a uma criança ou a um professor para voltar àquela escola”, anunciou, embora sem referir uma data para o acontecimento.
A decisão foi tomada depois de o próprio presidente dos EUA ter sugerido a demolição da escola numa visita a Uvalde, no mês passado. A prática de demolir os estabelecimentos escolares no seguimento de um tiroteio não é de agora: em 2012, depois daquele que foi considerado um dos tiroteios escolares mais mortais na história dos EUA, a escola de Sandy Hook, Connecticut, onde o mesmo terá ocorrido, foi demolida, dando lugar a uma nova escola construída no local.
A Robb Elementary School, onde ocorreu o tiroteio de 24 de maio, conta com cerca de 600 alunos e deverá ser também substituída por um novo estabelecimento escolar, ainda que não existam planos nem datas concretas.
O tiroteio de Uvalde tem sido objeto de muito debate, nomeadamente no que toca à resposta da polícia, criticada pela demora em avançar sobre o local do crime. De acordo com os relatórios que, entretanto, foram redigidos sobre o acontecimento, as forças policiais terão levado mais de uma hora a confrontar o agressor. O chefe de segurança pública do Texas, Steven McCraw, terá dito, inclusive, na terça-feira que estavam presentes polícias suficientes no local para deter o atirador apenas três minutos depois de este ter entrado no edifício, nomeando toda a operação um “vergonhoso fracasso”. “Três minutos depois de o sujeito ter entrado no prédio oeste, havia um número suficiente de polícias armados com coletes à prova de bala capazes de isolar, distrair e neutralizar o sujeito”, anunciou.
Segundo McCraw, o chefe da polícia local Pedro Arredondo, ou “Pete” Arredondo, como é conhecido, terá impedido que outros polícias parassem o intruso mais cedo, reduzindo, com isso, e possivelmente, o número de mortes. “Os oficiais tinham armas – as crianças não tinham. Os oficiais usavam coletes à prova de balas – as crianças não. Os oficiais tinham treino – o sujeito não tinha”, disse, acusando Arredondo de “colocar a vida dos polícias à frente da vida das crianças”.
Arredondo, que havia sido eleito membro do conselho da cidade poucos antes do tiroteio, não compareceu às duas reuniões que foram organizadas desde então para discutir o sucedido, admitindo no início do mês que nunca se considerou comandante do incidente no local do tiroteio e que não impediu a polícia de invadir o edifício. Já vários membros da comunidade, inclusive pais das vítimas, pediram, na segunda-feira, que Arredondo renunciasse ao seu cargo enquanto membro do conselho, de acordo com a ABC News.
Ainda assim, e apesar das muitas críticas dirigidas a Arredondo por parte de McCraw, McLaughlin não deixou de destacar que a responsabilidade não deveria ser inteiramente depositada sobre o chefe da polícia, acusando o próprio McCraw de “deixar de fora os seus próprios oficiais e guardas florestais que estavam no local naquele dia”. “O coronel McCraw tem uma agenda e não é apresentar um relatório completo sobre o que aconteceu e dar respostas factuais às famílias desta comunidade”, disse o presidente da Câmara.
O ataque do jovem de 18 anos Salvador Ramos a 24 de maio tem colocado novamente no centro do debate a problemática da violência armada nos EUA, assim como a necessidade de existirem regulamentações mais restritas para a compra e uso de armas. Na terça-feira, vários Senadores dos EUA avançaram com uma nova legislação para lidar com tiroteios em massa, propondo um conjunto de medidas que já têm vindo a ser consideradas algumas das mais significativas da geração no que toca ao controlo de armas. O novo projeto lei exigiria que mais vendedores requisitassem verificações de antecedentes e reforçaria a pena dos traficantes de armas.