Ao contrário de Dennis Lau, que “agiu com dolo”, causando “prejuízos aos ofendidos e apoderando-se do montante” investido por estes, “não se deram como provados” os crimes pelos quais o português Frederico dos Santos Rosário estava a ser julgado, considerou a juíza Cheong Weng Tong na leitura da sentença.
Os dois empresários estavam acusados de 48 crimes de burla, num esquema que envolveu 71 pessoas de Macau, entre os 22 e os 63 anos, com perdas de 12 milhões de dólares de Hong Kong (1,4 milhões de euros).
Neste caso, que levou a tribunal o filho da conselheira das comunidades portuguesas Rita Santos, os lesados investiram valores entre 10 mil patacas (1.143 euros) e 1,8 milhões de patacas (205 mil euros), na expetativa de obterem rendimentos avultados, nalguns casos superiores a 25%.
Em Macau, o negócio terá sido promovido em encontros organizados na sede da Associação dos Trabalhadores da Função Pública, da qual Rita Santos é presidente da assembleia-geral.
O português “não agiu com dolo, mas com negligência e não cumpriu o dever de prudência”, considerou a magistrada, referindo que, enquanto sócio de Lau, teria condições “para fiscalizar” os investimentos.
“Ele tem responsabilidade”, concluiu o tribunal, condenando-o ao pagamento de uma indemnização a 29 dos lesados, não revelando, porém, o montante estipulado.
“Aqui estarão em causa talvez uns 12 milhões [de patacas, equivalente a 1,37 milhões de euros]”, sugeriu, “sem certezas”, o advogado de Frederico dos Santos Rosário, Luís Almeida Pinto, admitindo que esta é matéria a estudar e que poderá “eventualmente recorrer” da decisão.
“Não ficou com um avo [cêntimo de pataca] das vítimas, portanto não deixa de ser estranho que venha a ser condenado solidariamente, ou seja, ao mesmo tempo que o arguido de Hong Kong, a pagar indemnizações a 29 das vítimas, quando o tribunal reconhece inequivocamente que o dinheiro dos ofendidos foi todo ele apropriado pelo arguido de Hong Kong”, acrescentou.
À saída do tribunal, o advogado português disse ainda que a absolvição significa que “hoje o tribunal de Macau lavou a honra” de Rosário.
“Jamais poderá ser apontado como um criminoso ou delinquente, conforme havia sido na acusação do Ministério Público”, notou.
A leitura da sentença voltou a ficar marcada pela ausência do empresário português, que já não tinha comparecido na última sessão. Dennis Lau esteve ausente desde que o caso começou a ser julgado, em maio do ano passado.
Almeida Pinto salientou que o cliente tem estado “muito em baixo”, referindo que “aparecer à frente da televisão com um capuz enfiado [na cabeça] é um procedimento da Idade Média” da Polícia Judiciária “reprovável” e que o seu cliente sentiu “grande pressão” no dia-a-dia, “lutando para fazer prova da sua inocência”.
Em Macau, no momento em que a polícia detém um suspeito, este é apresentado à imprensa com um capuz negro na cabeça.
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