O Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA) anunciou hoje que as organizações não-governamentais (ONG) humanitárias internacionais esgotaram as suas reservas de combustível e foram forçadas a “entregar a pé os poucos fornecimentos e serviços humanitários ainda restantes, na medida do possível”.
De acordo com a última avaliação alimentar do Programa Alimentar Mundial (PAM), 83% da população do Tigray está exposta à insegurança alimentar, incluindo “13% das crianças tigray com menos de 05 anos”, para além de que “metade das mulheres grávidas e lactantes sofre de subnutrição”.
“As famílias estão a esgotar os meios para se alimentar, três quartos da população utiliza estratégias extremas para sobreviver”, revelou a agência das Nações Unidas numa declaração.
“Os regimes alimentares estão a empobrecer cada vez mais, à medida que as reservas de alimentos se esgotam, e as famílias dependem já quase exclusivamente de cereais, ao mesmo tempo que limitam as porções e o número de refeições diárias”, acrescentou o PAM.
A organização alerta ainda para o agravamento da situação alimentar nas regiões vizinhas de Amhara e Afar, também duramente atingidas pelos combates nos últimos meses.
“O PAM está a fazer tudo o que está ao seu alcance para assegurar que os nossos comboios de alimentos e medicamentos atravessem as linhas da frente”, afirmou Michael Dunford, diretor regional da agência para a África Oriental, citado na declaração.
“Se as hostilidades persistirem, no entanto, todas as partes em conflito têm de concordar com uma pausa humanitária e a abertura de corredores para que os abastecimentos possam chegar aos milhões de pessoas sitiadas pela fome”, acrescentou Dunford.
Tigray, um estado com seis milhões de habitantes, está sob o que a ONU classificou como um “bloqueio de facto” há já seis meses.
No passado domingo, Adis Abeba anunciou que iria permitir mais voos “para reforçar o transporte terrestre” de alimentos e medicamentos para este estado no norte da Etiópia.
Nas últimas semanas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou não conseguir fazer chegar quaisquer fornecimentos médicos a Tigray desde 15 de julho de 2021.
A guerra no Tigray eclodiu em 04 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o exército federal para aquele estado no norte do país, com a missão de retirar pela força os dirigentes locais da Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF, na sigla em inglês) que vinham a desafiar a autoridade de Adis Abeba há muitos meses.
O pretexto específico da invasão foi um alegado ataque das forças estaduais a uma base militar federal no Tigray, e a operação foi inicialmente caracterizada por Adis Abeba como uma missão de polícia, que tinha como objetivo restabelecer a ordem constitucional e conduzir perante a justiça os responsáveis pela sua perturbação continuada.
O conflito na Etiópia provocou a morte de vários milhares de pessoas e fez mais de dois milhões de deslocados, deixando ainda centenas de milhares de etíopes em condições de quase fome, de acordo com a ONU.
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