É sabido entre a comunidade científica que o nome “milípede” é um certo exagero, já que nenhum dos animais englobados nesta categoria tem, de facto, mil pernas. Até agora.
Um grupo de cientistas descobriu uma nova espécie de diplópode que pode chegar a ter mais de 1300 pernas. Em concreto, 1306, de acordo com o estudo publicado na Nature.
A criatura, que tem quase 10 centímetros de comprimento mas menos de um milímetro de largura, foi descoberta a cerca de 60 metros abaixo do solo, num local de exploração mineira na Austrália e batizada de Eumillipes persephone.
“Honestamente, quando vi estes animais pela primeira vez, fiquei imediatamente entusiasmado”, recorda Bruno Buzatto, da Bennelongia Environmental Consultants, que aconselha empresas mineiras sobre como a sua atividade pode afetar a vida selvagem. A equipa do biólogo instalou “armadilhas” que possibilitaram capturar o milípede para análise em laboratório. Inicialmente, acreditava tratar-se de um parente de uma outra espécie de milípede, encontrada na Califórnia, que detinha antes o recorde de maior número de patas: 750. Esta espécie também vive no subsolo e tem aspeto semelhante à Eumillipes persephone.
Análises genéticas, no entanto, demonstraram que as duas espécies não têm qualquer relação, apesar das muitas semelhanças. Os investigadores sugerem que o facto de ambas as espécies viverem no subsolo as levou a evoluir de forma semelhante, embora, no início da sua evolução, provavelmente tenham iniciado as suas vidas à superfície. No caso da Eumillipes, as condições quentes e áridas do solo australiano podem tê-la levado a passar a viver no subterrâneo.
Ambas as espécies são de cor clara e não têm olhos – como muitos animais que habitam debaixo da terra – têm grandes antenas e uma grande quantidade de pernas para as ajudar a deslocar-se no subsolo.
“Foi impressionante, porque é quase o dobro do número anterior de pernas em milípedes”, admite Paul Marek, entomologista no Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia e co-autor do estudo. “Setecentos e cinquenta parece um monte de patas para um animal. Mil trezentos e seis é bastante espantoso”.
Marek espera que a descoberta chame a atenção para a biodiversidade escondida no subsolo, e está ansioso por estabelecer o recorde do máximo de pernas que um milípede pode ter. “Pode haver algum por aí com ainda mais pernas”, afirma.
Estas espécies são essenciais aos habitats onde vivem, já que se alimentam de detritos e reciclam nutrientes no solo. A descoberta desta espécie num local de exploração mineira é ainda mais expressiva, porque se trata de uma área danificada pelas explorações.