São 20 histórias que pretendem ser o rosto de milhares de crianças e jovens que, devido ao conflito que há 5 anos não dá tréguas ao norte de Moçambique, tiveram de procurar outros lugares onde estudar – e onde viver. Duas dezenas de crianças que recebem o apoio da Helpo, uma ONG portuguesa que se dedica ao apoio a populações vulneráveis e que atua particularmente na área da educação, e cujos percursos a organização foi descobrir, de forma a perceber em que banco de escola se sentam agora.
O resultado desse caminho está agora patente numa exposição, que recebeu o Alto Patrocínio da Presidência da República, no Museu dos Coches, em Lisboa. A VISÃO é parceira desta iniciativa e pré-publicou algumas das histórias que pode encontrar nesta exposição.
As fotografias são da autoria de Luís Godinho e os textos que as acompanham de Maria João Venâncio. A escritora é criativa da agência de publicidade Big Fish e Luís Godinho foi propositalmente convidado para este projeto, que, em breve deverá dar lugar a um livro que refletirá esta exposição. Já há uns anos a Helpo tinha apresentado um projeto semelhante, ao qual a VISÃO também se associou, intitulado ‘Futuros Presidentes’, no qual chamava a atenção para a futura geração de líderes que estão a ser formados nas escolas de Moçambique.
O objetivo é chamar a atenção para o conflito de Cabo Delgado, que há cerca de 4 anos não dá tréguas à população e que já provocou 760 mil deslocados que sobrevivem em condições muito difíceis – tal como a VISÃO descreveu na edição que está atualmente nas bancas, na reportagem ‘A caminho de lugar nenhum’.
Muitas das crianças retratadas na ‘Escola do Caminho Longo’ caminharam dezenas, centenas de quilómetros, para encontrar um porto seguro em cidades – alguns até em províncias – mais distantes, onde a violência dos insurgentes não se faça sentir. Uma delas não sobreviveu ao percurso.
Para Francisco André, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e das Comunidades, este é um projeto que provoca o necessário “sobressalto cívico para que Moçambique e outros países despertem” para a situação e se coordenem para a tentar resolver. O governante, que esteve presente na cerimónia de inauguração, realçou ainda que este é “um projeto que nos toca a todos” e lembrou que “Portugal e Moçambique estão condenados a entender-se”, pela ligação histórica que têm.
Na mesma ocasião, Francisco André aplaudiu os esforços da Helpo que, considera, “tem sido incansável” na tentativa de angariar atenção e apoios para aquela região.
Joana Clemente, fundadora e coordenadora geral executiva da Helpo, num discurso claramente emocionado, sublinhou o privilégio e a responsabilidade que sente “em partilhar o que estas pessoas nos fazem ver e ouvir”. Por isso mesmo, repete, “temos a responsabilidade de não inquinar o que vem das suas vozes”, para que o mundo possa entender, na primeira pessoa, aquilo que é a luta de milhares de homens, mulheres, crianças que fogem à procura não de uma vida melhor, mas de uma oportunidade de continuar vivos.
“Precisamos de ver estas pessoas e nem sempre o espaço que lhes reservamos é delas, nem para elas”, nota. Daí a necessidade que a ONG sentiu de as fazer mais presentes junto das dos portugueses.
Já o Diretor do Museu dos Coches, Mário Antas, congratulou-se por poder receber uma exposição que fala, precisamente, de caminho e de esperança, salientando que “as migrações existem desde sempre”, e que o espólio do Museu reflete isso mesmo. A simbiose entre a exposição da Helpo e o espaço faz, assim, ainda mais sentido.
“A escola tem de estar no centro [da vida], e por isso mesmo escolhemos a sala central do museu para acolher esta exposição – é o único espaço que tem luz natural, sinal de esperança”, concluiu.
A Helpo está presente em Moçambique desde 2008, sobretudo no norte e centro do país. Tem, atualmente, também, projetos em São Tomé e Príncipe e na Guiné-Bissau.