Encurralado entre a pressão internacional de uma crise diplomática com a França, por causa da distribuição das licenças de pesca, e o balão sem ar que se está a revelar a Cimeira do Clima, COP26, em Glasgow, ao primeiro-ministro britânico resta vender o “orçamento mais generoso do início do século”, como o descreve o britânico The Times. Contrariando todas as expectativas, a receita de Boris Johnson para sair da crise provocada pela Covid-19 é um cheque de cerca de 150 mil milhões de dólares (177 mil milhões de euros) para aplicar no Serviço Nacional de Saúde, em transportes, infraestruturas, educação, salários e subsídios. Ou seja, um dos orçamentos mais generosos das últimas décadas, não se encontrando paralelo desde que Margaret Thatcher chegou ao poder, em 1979. Todavia, o plano está longe de ser consensual; até mesmo entre alguns conservadores, existe o receio de que a proposta orçamental – aprovada a 27 de outubro – agrave o endividamento e os impostos. Já os trabalhistas diagnosticam um surto inflacionista e acusam o primeiro-ministro britânico de estar a fazer uma jogada de marketing para camuflar os efeitos do Brexit, que também se faz sentir em ausências nas prateleiras dos supermercados e na falta de mão de obra.
Nos corredores de Westminster, consta, segundo os jornais britânicos, que nem o ministro das Finanças, Rishi Sunak – que defendeu no Congresso do partido, no ano passado, o dever moral de os tories consertarem as finanças públicas – aceitou de ânimo leve esta onda de investimentos. De impulsos thatcheristas, ele é apontado frequentemente como um dos possíveis sucessores de Boris Johnson, mas, na hora de elaborar o Orçamento do Estado para 2022, o primeiro-ministro provou que Sunak ainda terá de esperar antes de poder pensar em voos mais altos.