Uma nova investigação sobre um cadáver de uma criança de Neandertal, encontrado numa caverna francesa nos anos de 1970, sugere que o esqueleto foi enterrado há 41 mil anos, uma prática que não seria comum na época devido ao peso simbólico do comportamento. A conclusão está a questionar os cientistas sobre as habilidades cognitivas destes hominídeos e dos seus comportamentos funerários. Enterrar os mortos seria uma cultura exclusiva do homo-sapiens? É possível que não.
Os investigadores que lideraram a pesquisa pertencem ao Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica, do Muséum National d’Histoire Naturelle de Paris, e da Universidade do País Basco, em Espanha. Analisaram os ossos da criança de dois anos com equipamento moderno, que revelou que o corpo foi colocado numa cova e coberto deliberadamente. Para corroborar esta conclusão, juntam-se outros fatores: o esqueleto não apresentava marcas de carnívoros, o que sugere que estaria protegido com terra, os ossos não apresentavam muita dispersão e estariam bem preservados, mesmo tratando-se de uma criança, cujos ossos tendem a ser mais frágeis.
“A origem das práticas funerárias tem implicações importantes para o surgimento das chamadas capacidades cognitivas modernas e comportamento”, diz o estudo, citado pela CNN. “Esses novos resultados fornecem insights importantes para a discussão sobre a cronologia do desaparecimento dos neandertais e a capacidade comportamental, incluindo a expressão cultural e simbólica, desses humanos”.
A descoberta veio questionar a ciência e abrir o leque de hipóteses sobre como os antepassados tratavam os parentes nos rituais funerários. No Iraque, a investigação a uma caverna com os restos mortais de dez pessoas sugere que os neandertais tivessem colocado flores perto dos cadáveres. Outros pesquisadores acreditam ainda que não havia uma regra sobre como tratar os hominídeos na hora da morte. É possível, por exemplo, que europeus tivessem culturas diferentes, incluindo o canibalismo.