Yuen Kwok-yung, microbiologista, médico e professor de Hong Kong, fez parte de uma equipa de investigadores que, em janeiro, foi para Wuhan ajudar no diagnóstico de casos de Covid-19. Numa entrevista à BBC, o microbiologista disse que as autoridades locais destruíram algumas evidências físicas, que forneceram respostas “lentas” às descobertas clínicas e que houve lacunas nas medidas tomadas.
Em dezembro, começaram a aparecer pessoas nos hospitais de Wuhan com uma pneumonia desconhecida. A partir do final de Dezembro, e durante três semanas, as autoridades minimizaram os riscos desta que se tornaria a maior pandemia dos últimos anos.
No dia 12 de janeiro, o médico diagnosticou a primeira família contaminada em Shenzhen. “Eu tinha conhecimento das pessoas infetadas em Shenzhen, eu sabia quão eficazmente o vírus estava a espalhar-se, eu sabia que podia ser contraído num hospital e eu sabia que ele poderia estar num avião, com centenas de pessoas, a viajar para uma cidade a milhares de quilómetros daqui”, explica Kwok-yung.
“As autoridades disseram que não havia nada que levasse a se suspeitar que o vírus era transmitido para os humanos e que, até à data, nenhum profissional de saúde tinha sido infetado”, relata o professor.
O primeiro passo de Kwok-yung foi informar as autoridades mas Pequim não revelou os dados ao seu país, nem ao resto do mundo, durante a semana crítica em que o vírus andou a circular nas ruas sem “barreiras”.
No dia 18 de janeiro, o professor foi convidado a integrar uma equipa para estudar e analisar este vírus em Wuhan. Ao chegar ao mercado, onde se diz ter começado a pandemia, Kwok-yung percebeu que o mercado tinha sido desinfetado e as amostras tinham sido limpas antes de serem recolhidas.
“Quando chegamos ao mercado, claro, não havia nada para ver porque o mercado já estava limpo. Podemos dizer que a cena do crime já estava alterada porque foi limpa e não pudemos identificar o hospedeiro do vírus.”
Ao contrário daquilo a que o professor assistiu com a SARS, a resposta das autoridades de saúde foi mais rápida, mas o professor refere que mesmo assim as autoridades foram demasiado lentas a admitir os números que estava a começar a crescer rapidamente, assim como a admitir que havia profissionais de saúde infetados.
“Acredito que eles encobriram algumas informações”, diz o professor. “As autoridades locais, que deveriam transmitir as informações imediatamente, não permitiram que isso fosse feito tão prontamente quanto deveria.”
Apesar de todas as acusações que fazem ao país, a China continua a referir que foi sempre clara e transparente nas informações que divulgou, e que graças às suas medidas de segurança, o mundo teve um prazo para se preparar.
Esta não é a primeira vez que o especialista de Hong Kong questiona a manipulação do governo sobre o coronavírus. Ao longo destes meses, o microbiologista tem feitos estudos e defendido que a China pode ter dezenas de vezes mais casos do que os relatados e reportados.