“As camas das unidades de cuidados intensivos são da Comunidade de Madrid e vão ser atribuídas aos pacientes que mais beneficiem delas”, disse o médico-chefe à sua equipa do hospital Infanta Cristina de Parla, a sul de Madrid, que se preparava para um cenário de colapso, num vídeo recentemente divugado pelo jornal espanhol El País. O fator determinante que decidiria quem teria ou não a oportunidade de beneficiar destas camas não era a condição de saúde de quem se encontrava doente, mas sim a sua idade, explicava de seguida o médico. Negar-se-ia a assistência a idosos – a prioridade seriam os pacientes mais novos.
Foi explicado aos presentes na sala que estavam a ser dados antibióticos para infeções bacterianas a todos os idosos que residiam em lares de idosos. Se se tratasse de um caso de Covid-19, “azar”. “É possível que nas próximas semanas um paciente com idade X lhe veja ser negada a admissão hospitalar porque precisamos da cama para outro paciente que beneficie mais dela. Isto é um trauma. Vamos negar a cama aos pacientes que têm o maior risco de morrer, porque precisamos de a guardar para aqueles a quem podemos salvar mais anos de vida.”
Na sessão, realizada com o auxílio de uma apresentação de slides, foi explicado quais os doentes que seriam admitidos e quais estariam nas mãos do destino. No vídeo, o médico atribuía a fonte destas ordens umas vezes ao Ministério, outras à Comunidade de Madrid. Nesse mesmo mês, o diretor de coordenação sócio-sanitária, Carlos Mur de Víu, teria enviado emails onde eram dadas orientações para que não fossem internados idosos e pessoas com deficiência.
Na apresentação era, no entanto, enfatizada a importância da retirada dos jovens, a quem nunca iria ser negado nenhum recurso dos hospitais. Os médicos foram avisados de que este seria um desafio ético sem precedentes, mas que teria sido uma decisão imposta e que não deveriam hesitar em negar a entrada de idosos nos hospitais, porque se não fosse um médico a aplicar estas restrições, seriam as forças policiais.
A sessão gravada decorreu numa altura em que os corredores se equiparavam a um cenário de guerra, onde se viam doentes deitados no chão e onde os recursos básicos não eram assegurados. Um segmento do vídeo tinha sido publicado a 25 de março na plataforma Youtube sem qualquer confirmação da sua veracidade. Foi agora divulgada a totalidade do mesmo, pelo hospital, ao jornal El País. Um porta-voz do hospital, no entanto, garante que a unidade de saúde nunca negou tratamento a nenhum paciente de idade avançada.
Espanha é atualmente o sexto país, a nível mundial, com mais casos de infetados pela Covid-19 sendo que registou já, desde o início da pandemia, um total de 245 268 casos confirmados.