A necessidade de ir deixar o filho com os avós foi a explicação oficial dada para Dominic Cummings, de 48 anos, ter saído da sua casa de Londres e viajado com a mulher até à cidade de Durham, a mais de 400 quilómetros da capital, no passado dia 31 de março. Como infetados, era suposto cumprirem pelo menos sete dias de isolamento em casa. Mas, naquele final de março, a principal preocupação do chamado “arquiteto do Brexit” era ir levar o filho aos avós e deixá-lo aos seus cuidados. Ato que se revela outro incumprimento das recomendações do seu próprio governo. Fora o próprio primeiro-ministro, Boris Johnson, a pedir a toda a população que não recorresse ao auxílio dos avós (ou outros familiares mais velhos) para cuidar das crianças.
As críticas não demoraram, com a oposição a pedir a sua demissão. “Se foi assim, o principal assessor do governo parece ter quebrado as regras de confinamento. As instruções eram muito clara: fiquem em casa e não façam viagens que não sejam essenciais”, afirmou um porta-voz dos trabalhistas.
Mas Johnson não cedeu: “Viajou para poder proporcionar os cuidados infantis adequados ao seu caso, num momento em que ele e a mulher estavam incapacitados de o fazer. Sem alternativa, julgo que seguiu os instintos de qualquer pai”, sublinhou o primeiro-ministro britânico.
O problema do exemplo
Nada que possa aliviar a pressão sobre o seu governo – e, com isso, outro efeito indesejado. É que, como alertou já um cientista do grupo de consultores que está a apoiar o executivo do Reino Unido, a polémica poderá deitar por terra boa parte dos esforços feitos até agora para combater a pandemia.
O aviso é de Stephen Reicher, professor de psicologia social da Universidade de St Andrews: “Uma das razões que levou as pessoas a aderirem ao confinamento foi o sentimento de estar a fazer algo pela comunidade. Faziam-no pela tal sensação de estarmos todos juntos nisto. Mas se passamos a ideia de que existe uma regra para uns e outra para outros, isso rebenta num ápice com a adesão a medidas como esta.”
O efeito disso, remata Reicher, é aquele de que todos fogem e ninguém quer. “Se a adesão às medidas da emergência sanitária for menor vão morrer ainda mais pessoas.”
Até agora já morreram mais de 36 mil pessoas no Reino Unido por Covid-19.