A avaliar pelos emails e documentos com revelações sobre os homens de mão, as sociedades offshore, os negócios mais ou menos opacos ou os movimentos bancários suspeitos de Isabel dos Santos que têm sido revelados nos últimos anos, não é absurdo dizer que a mulher que ficou conhecida como “Princesa de África” se transformou também num dos alvos mais apetecíveis para os piratas informáticos e whistleblowers.
A filha do ex-Presidente de Angola que tem reagido descontroladamente no Twitter, primeiro ao arresto dos seus bens em Angola, depois à fuga de informação que deu origem ao Luanda Leaks, já tinha visto os seus emails intercetados antes. Alguns dos documentos agora expostos na plataforma do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), relacionados com a barragem de Cabulo Cabaça, na província do Cuanza-Norte, em Angola, por exemplo, são os mesmos que já tinham sido “roubados” aos computadores da PLMJ, num ataque informático que a sociedade de advogados de José Miguel Júdice sofreu em 2016, apurou a VISÃO. A fuga intercetou dezenas de emails que retratavam como, nos bastidores, Isabel dos Santos tinha conseguido angariar o contrato mais milionário de sempre em Angola: a construção da dita barragem, por nada mais, nada menos que 4,5 mil milhões de dólares. Tudo isto com o aval do então Presidente e seu pai, José Eduardo dos Santos.
Pai e MPLA
José Eduardo dos Santos
Muitas das nomeações e dos negócios de Isabel dos Santos tiveram o aval do seu pai e ex-Presidente de Angola, que se tem refugiado em Barcelona
General “Dino”
Isabel está a ser investigada em Portugal por causa de uma transferência de 1,2 milhões de euros para a Rússia, através de uma conta em nome de Leopoldino do Nascimento, um dos homens do regime de José Eduardo dos Santos
Manuel Vicente
Na entrevista à RTP, a filha do ex-Presidente angolano levantou as suspeitas de que Manuel Vicente, antigo nº 2 do pai, continuaria a trabalhar com João Lourenço e a receber milhões de dólares do Estado, depois de ter arruinado as contas da Sonangol
Os documentos alegadamente retirados do computador de Inês Pinto da Costa, advogada da PLMJ que acompanhava alguns dos negócios de Isabel dos Santos, mostravam o modus operandi da empresária angolana nalguns negócios e também quem eram já, na altura, alguns dos homens da sua confiança, como Vasco Rites, ex-consultor da PricewaterhouseCoopers (PWC) que acompanhou o dossiê da barragem quando estava na Fidequity e que esteve na administração da Amorim Energia, até 2019.
A VISÃO perguntou à PLMJ se admitia que uma boa parte da informação agora extraída para o Luanda Leaks – cerca de 715 mil ficheiros – tenha tido origem no seu sistema informático, mas a sociedade de José Miguel Júdice não quis dar respostas sobre os incidentes que ameaçaram a sua cibersegurança. A VISÃO também questionou que empresas relacionadas com Isabel dos Santos o escritório representava ou representa. A PLMJ respondeu apenas que, devido às “regras de segredo profissional”, não poderia dizer a quem prestava “serviços jurídicos”. Oficialmente, o consórcio internacional de jornalistas obteve a informação pelo PPLAAF, uma plataforma de proteção a whistleblowers em África e com sede em Paris.
O que não deixa dúvidas é que 34 órgãos de informação, entre eles o Expresso e a SIC, tiveram acesso a milhares de documentos que mostram como Isabel dos Santos terá desviado para o Dubai mais de 115 milhões de dólares da Sonangol, depois de ter sido nomeada pelo pai para liderar a petrolífera angolana. Pior: que desses 115 milhões, 54 terão sido retirados de uma conta da Sonangol no EuroBic – banco em que Isabel dos Santos detém cerca de 40% do capital –, um dia depois de ter sido exonerada da petrolífera, por ordem do novo Presidente, João Lourenço. E que terá usado para esse fim uma sociedade criada no Dubai por um dos seus mais antigos advogados, sociedade essa detida por uma amiga e sua sócia, através de um contrato de prestação de serviços celebrado no Reino Unido entre a nebulosa empresa Matter Business Solutions e a Sonangol UK.
Mas os ficheiros contam mais do que isso: como a história que sempre gostou de contar, de mulher que tinha prosperado à custa da sua capacidade de trabalho e do seu talento para os negócios, pode mesmo ser um mito. A fuga de informação desvenda como criou uma rede de 400 empresas, muitas delas em paraísos fiscais, para comprar apartamentos e mansões, de Portugal ao Mónaco, ou como prosperou no negócio dos diamantes, com a cumplicidade de bancos, consultoras europeias e norte-americanas e escritórios de advogados. Se o seu homem de confiança Mário Leite da Silva, e o seu marido, Sindika Dokolo, já tinham sido visados no processo cível que levou ao arresto preventivo dos seus bens em Angola, por suspeitas de irregularidades em negócios celebrados com o Estado, esta nova fuga de informação foi também fulminante para advogados, sócios, consultoras e amigos de Isabel dos Santos. E sobretudo para a própria – sobre quem pende agora a ameaça de um mandado de captura internacional. Estas são algumas das personagens dessa história.
Sindika Dokolo Economista, gestor e empresário
O colecionador de arte
Filho de um banqueiro do Congo, Sindika está sempre ao lado da empresária. Na vida e nos negócios
Quando, naquele dia 5 de março de 2015, o casal Sindika Dokolo e Isabel dos Santos chega ao Porto, para inaugurar, na Galeria Municipal, a exposição You Love Me, You Love Me Not, espalham charme. Ela, empresária de sucesso. Ele, colecionador de arte, dono de uma fundação, recebe as chaves da cidade pelas mãos do presidente da câmara, Rui Moreira, e lança a promessa (nunca cumprida) de fazer do Porto sede de muitos dos seus projetos. Ao mostrar parte da coleção da sua fundação, junta artistas angolanos e portugueses, sonha derrubar fronteiras e “apertar laços” entre Portugal e Angola. “Não nos dirá o que somos, mas dirá o que não somos. E afastará as representações caricaturais que o mundo tende a criar”, disse, na altura.
Nas entrevistas, é um acérrimo defensor de Isabel, a “vítima do preconceito”. Está casado com ela há 18 anos e mostra como acompanha os seus negócios a par e passo, e está bem dentro dos assuntos. Têm até negócios conjuntos – como o dos diamantes, na De Grisogono. No entanto, ele assume-se mais como colecionador e filantropo.
Terá sido em Londres que se conheceram. Apesar de ter nascido em Kinshasa, na República Democrática do Congo, teve uma educação europeia: foi criado entre a Bélgica e Paris (aqui, fez os estudos secundários e superiores, em Economia). Esteve, aliás, muito tempo sem poder pisar o chão do seu país de origem. Alguns artigos em jornais de Angola dizem que este exílio se deveu ao facto de ter entrado em rota de colisão com o ex-Presidente Kabila, que terá mesmo emitido uma ordem de prisão. Mas este terá estado presente no seu casamento, entre os cerca de 800 convidados. A cerimónia, pelo civil, realizou-se nos jardins do palácio presidencial de Angola e na Sé Catedral, no dia seguinte.
A paixão pela arte, herdou-a do pai. Augustin Dokolo Sanu começou por ter uma empresa de táxis e um dancing. Casou-se com Hanne, dinamarquesa, com quem teve três filhos. Depois de ter criado uma cadeia de lojas, fundou o Banco de Kinshasa. Enriqueceu, colecionou arte, mas o regime de Mobutu pôs o banco em “gestão administrativa”. Morreu em 2001, em Paris.
Por esta altura, já Sindika namorava com a filha do Presidente de Angola. Herdou negócios e fortuna. Com as obras de arte, nasceu a Fundação Sindika Dokolo, em 2004, tendo o angolano Fernando Alvim como gestor e o camaronês Simon Njami como curador.
O marido de Isabel dos Santos continua com negócios no Congo. Estreitou relações com o atual Presidente, Tshisekedi, e, de acordo com uma notícia do site Maka Angola, terá disponibilizado os seus contactos na preparação de uma visita à Bélgica. Além disso, a sua união com Isabel dos Santos estende-se cada vez mais aos negócios: é também administrador da cimenteira Nova Cimangola e tem assento na administração da Amorim Energia.
Entretanto, no Porto, a Casa Manoel de Oliveira, que comprou em hasta pública por 1,5 milhões para ser a sede da sua fundação, continua por ocupar.
(Por Cesaltina Pinto)
Mário Leite da Silva Economista, administrador em várias empresas do universo de Isabel dos Santos
O gestor todo-o-terreno
O homem que vem da PwC e do Grupo Amorim tornou-se indispensável nos negócios de Isabel
Não é preciso muito para perceber que Mário Leite da Silva é um homem talhado para exercer poder e gerir os jogos de bastidores dos negócios. Mas, ao contrário do que tal possa parecer, não significa que seja o homem da sombra, que nunca aparece. Não. Pelo contrário, é o homem que assume com frontalidade o seu exercício, a sua função e dá a cara pelas suas posições e opiniões. Em Portugal, tornou-se conhecido por ser quem representava Isabel dos Santos nos negócios e nos interesses.
Foi assim durante o longo processo de fusão da ZON (da qual Isabel dos Santos já era acionista) com a Optimus, que daria origem à Zopt (constituída a meias com a Sonae), a empresa que controla 52,3% da operadora de telecomunicações NOS. E foi assim, durante os penosos anos que demorou a resolver a saída de Isabel dos Santos do BPI e a saída do BPI do Banco de Fomento de Angola (BFA). Mas bastava vê-lo ao lado de Isabel dos Santos na cerimónia de compra da Efacec para ser percetível que é um homem totalmente confortável no fato que veste.
Com os jornalistas – que se habituaram a ver nele o rosto oficial da filha de José Eduardo dos Santos –, é parco em palavras, mas sabe largar os recados certeiros com o sorriso de quem sabe muito bem o que faz. Sorriso, esse, que se apaga imediatamente quando surgem questões mais delicadas para a sua “patroa” e dá lugar a um misto de ar-responsável-e-ofendido. Para quem com ele teve de lidar nos meandros das negociações, eficiência e eficácia são adjetivos que lhe atribuem, a par com alguns cuidados acerca da confiança nos seus propósitos.
Nos “entretantos”, existe um homem afável, relativamente sociável, com uma enorme capacidade de controlo das situações – ainda que dentro do escritório se aponte alguma exteriorização das fúrias – e capaz de honrar os cargos que ocupa. Quer isto dizer que “não é bronco” e “sabe estar”. Além do mais, ostenta a respeitabilidade e os créditos de quem leciona na Porto Business School (PBS), na área de Planeamento e Controlo de Gestão, e até integrou, como vogal, o seu Conselho Geral e de Supervisão. Esta escola de negócios, nascida no seio da Universidade do Porto, junta mais de três dezenas de organizações nacionais e multinacionais.
Isabel dos Santos não podia ter escolhido melhor para a fachada dos seus negócios. Ou para gestor da sua fortuna. Se ele começa por ser o seu homem em Portugal, depressa esta função se aplica a Angola. Quem lhe telefonasse, o mais certo era encontrá-loentre embarques de avião, ou na China, ou em Londres, ou em qualquer outra parte do mundo, que o dinheiro não conhece fronteiras. Quem o conhece com mais proximidade, sabe que ele pouco tempo passa no Porto, apesar de ser aí que tem residência.
A relação de Mário Leite da Silva com Isabel dos Santos é a mais duradoura da sua vida profissional (cerca de 15 anos). E esta soube recompensar a sua ambição. Entregou-lhea presidência da administração da Santoro, da Fidequity, da Efacec e do BFA (só para nomear as mais importantes), bem como lugares na administração de muitas outras, como a NOS, a Esperaza Holding (acionista da Galp), Nova Cimangola ou Kento. Se neste império criado por Isabel dos Santos, ela é a chairwoman, ele é o CEO, o executivo, com uma grande influência na estratégia traçada. Agora, aos 45 anos, está a receber a fatura, pois também ele é visado no arresto de contas anunciado pelo poder angolano. Mário Leite da Silva, em conjunto com o casal Isabel e Sindika Dokolo, são acusados de terem desviado mais de mil milhões de fundos públicos angolanos.
Isabel conheceu Mário quando este era um dos jovens promissores que gravitavam pelos negócios privados de Américo Amorim. Era, aliás, diretor administrativo e financeiro do grupo, bem como coordenador das áreas administrativa, jurídica, fiscal e de recursos humanos. Andava nos bastidores da criação do BIC Angola (que juntou Isabel dos Santos, Américo Amorim e Fernando Teles no núcleo acionista) e na entrada do empresário da cortiça na GALP, em que a filha do então Presidente de Angola já estava. Quando deu conta, Mário Leite da Silva estava a trabalhar para Isabel dos Santos. Desde então, foi sempre a subir.
Isabel terá sabido que ele queria abandonar o Grupo Amorim e lançou–lhe o convite. Gostava dele e adivinhou o seu potencial. E talvez a sua experiência. Depois de se ter licenciado em Economia, Leite da Silva iniciou carreira como analista de crédito do BNC (mais tarde Banco Popular Espanhol). Daí, passou a líder de equipas de auditoria na PwC, para assumir de seguida a direção financeira da Grundig.
(Por Cesaltina Pinto)
Vasco Pires Rites Gestor da Fidequity
O homem da barragem
Esteve na Amorim Energia e na Fidequity. Deixou os dois cargos em 2019
O seu nome está timbrado nalguns documentos do Luanda Leaks como uma personagem mais secundária mas, curiosamente, já teve um papel principal noutrafuga de informação que tinha como alvo Isabel dos Santos. Em 2017, um manancial de documentos obtidos pela revista alemã Der Spiegel, e partilhados com outro consórcio internacional de jornalistas (o EIC), levou o Expresso a divulgar uma série de emails trocados entre Isabel dos Santos, Vasco Pires Rites, parceiros chineses, Ministério da Energia e Águas angolano e Inês Pinto da Costa, advogada da PLMJ que representava a empresária angolana. Apesar de o escritório de advogados de José Miguel Júdice ter interposto uma providência cautelar para travar as notícias, alegando que os dados teriam sido obtidos ilegalmente através de um ataque informático, nem tudo ficou em segredo. Pelo menos, não o que dizia respeito à construção da barragem de Cabulo Cabaça, em Angola.
Os emails mostram como Isabel dos Santos terá usado os seus poderes e conhecimentos para angariar aquele contrato de 4,5 mil milhões de dólares, que viria a ser adjudicado pelo pai. E onde é que aparece Vasco Pires Rites? É apresentado como gestor da Fidequity – que é uma espécie de incubadora de empresas de Isabel dos Santos –, o gestor mais próximo do dossier de Cabulo Cabaça. Especializado em estruturas financeiras e em imobiliário, estava na PwC em 2010 quando Isabel dos Santos o foi buscar. Estão por apurar as razões que o levaram a deixar o cargo, em 2019, na mesma altura em que abandonou a Amorim Energia.
(Por Sílvia Caneco)
Jorge Brito Pereira Sócio da Uría Menéndez-Proença de Carvalho
O advogado de longa data
Começou a trabalhar com Isabel dos Santos há 15 anos e tornou-se um dos seus homens de confiança. O especialista em fusões saltou para o Luanda Leaks por ter ido ao Dubai
Reconhecido entre os pares como um “excelente advogado”, de “raciocínio rápido” e com grande sentido de humor, o especialista em fusões e privatizações, direito das sociedades e mercado de capitais começou a trabalhar com Isabel dos Santos há cerca de 15 anos. A relação vem dos tempos em que trabalhava na PLMJ – onde era o braço direito de José Miguel Júdice – e perdurou depois de ter mudado para a Uría Menéndez-Proença de Carvalho, no final de 2015. Acompanhou a filha do ex-Presidente angolano em questões relacionadas com a Unitel e o EuroBic, mas também na fusão entre a Zon e a Optimus, que deu origem à NOS, operadora da qual é agora presidente do conselho de administração.
Apesar do seu abundante currículo, diz quem o conhece que nunca recebeu tantos pedidos de amizade no Facebook como desde que o seu nome foi envolvido no Luanda Leaks, o projeto de investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), do qual fazem parte o Expresso e a SIC.
O advogado viajou até ao Dubai para criar, com a ajuda de um escritório de advogados local, a Matter Business Solutions. De acordo com a fuga de informação de mais de 715 mil ficheiros do Luanda Leaks, esta sociedade, de que é acionista Paula Oliveira, terá servido para Isabel dos Santos desviar pelo menos 115 milhões de dólares das contas da Sonangol. Uma boa parte deste montante (57,8 milhões de dólares) terá sido transferida para aquele país dos Emirados Árabes Unidos a 16 de novembro de 2017, um dia depois de a filha do ex-Presidente de Angola ser exonerada do cargo na petrolífera por João Lourenço.
À VISÃO, o advogado alega que nunca controlou a Matter nem movimentou qualquer conta bancária associada a esta empresa, limitando-se a constituir a sociedade, tendo por base uma procuração “geral e standardizada” assinada por Paula Oliveira – de quem, ao que a VISÃO apurou, é advogado há alguns anos.
Esta nem é, apesar de tudo, a primeira vez que este advogado – que dá aulas na Universidade Católica e fez um MBA em Lausanne, na Suíça – aparece publicamente envolvido numa fuga de informação relacionada com Isabel dos Santos. Em 2017, os “Malta Files”, divulgados pelo Expresso, mostravam como a filha do ex-Presidente de Angola tinha recorrido a uma complexa estrutura de empresas em Malta – país fiscalmente mais favorável – para adquirir uma carteira de imóveis. E um dos documentos, que também consta do Luanda Leaks, já destapava o nome de Jorge Brito Pereira. O advogado era um dos diretores da Athol Limited, juntamente com um ex-embaixador maltês. A empresa criada em Malta terá servido para Isabel dos Santos comprar um apartamento milionário em Monte Carlo, no Mónaco, em 2015.
A filha do ex-Presidente angolano sempre se fez rodear de vários advogados e, dentro desse leque, Jorge Brito Pereira tornou-se um dos seus homens de confiança. Não só nos serviços jurídicos como em lugares importantes das suas empresas. Além de chairman da NOS, é presidente das assembleias-gerais do EuroBic e da Efacec.
(Por Sílvia Caneco)
Paula Oliveira Acionista da Matter Business Solutions
A amiga, sócia e alegado veículo
Quando se casou, fez questão de que Isabel dos Santos ficasse na mesa dos noivos. É amiga e sócia
da filha do ex-Presidente angolano e suspeita-se, agora, de que também seja sua testa de ferro
Olhando só para o nome, ou mesmo para a fotografia, poucos associariam Paula Cristina Fidalgo Carvalho dos Neves Oliveira a Isabel dos Santos. Mas a verdade é que a proximidade entre a portuguesa, de 48 anos, e a filha de José Eduardo dos Santos será tanta que Isabel teve direito a ficar na mesa dos noivos quando Paula se casou com o angolano Luís Carlos Tavira, numa quinta paradisíaca em Florença, Itália.
Há uns anos que já trabalhavam juntas. Nas respostas enviadas ao Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), os seus advogados dizem que Paula Oliveira é uma consultora com 25 anos de experiência, e enumeram uma série de cargos, ignorando os que têm ligação mais direta a Isabel dos Santos. Dizem, por exemplo, que terá trabalhado para a ENSA, companhia de seguros angolana, para o Instituto Nacional de Petróleos (INP), para a companhia de aviação TAAG e para a Angola Telecom. E que, pelo meio, terá sido diretora de Recursos Humanos e Corporate Affairs da Coca-Cola. Não contam, porém, como a licenciada em Gestão de Empresas é sócia de Isabel dos Santos na Youcall – empresa de call center em Angola mais conhecida como Ucall (emails de 2016 mostram que Paula Oliveira teria 30%). Ou no restaurante Oon.dha, na cidade de Luanda. Ou como Paula está na administração da NOS.
Nenhum perfil público faz também referência à Matter Business Solutions, empresa de que Paula Oliveira é a única acionista e que terá assinado um contrato de prestação de serviços com a Sonangol Limited, subsidiária da petrolífera angolana no Reino Unido. Os advogados da consultora negam que a sociedade criada no Dubai tenha servido para qualquer crime, mas os documentos obtidos pelo ICIJ indiciam que terá sido usada como mero veículo para Isabel dos Santos desviar dinheiro da Sonangol.
(Por Sílvia Caneco)
(Nota: Este artigo foi alterado a 27 de fevereiro, para atualizar as funções de Mário Leite Silva. Mário Leite Silva foi membro do Conselho Geral e de Supervisão da Porto Business School entre 2016 a 2018, em representação da Efacec. A sua passagem para vice-presidente da mesa da assembleia geral verifica-se após o término do mandato e as eleições de março 2019. A informação à data da publicação original do artigo foi retirada da página oficial da Porto Business School.)