Enquanto o Congresso votava os dois artigos para a sua destituição, na quarta-feira, 19, Donald Trump discursava num comício em Batle Creek, no Michigan, falando sobre alguns dos assuntos que neste momento mais o preocupam: a pouca água disponibilizada nos autocolismos e a pressão da água nos chuveiros e nas máquinas de lavar a loiça. “Vamos à casa de banho e precisamos de carregar 10 vezes [no autocolismo], não é? E no duche, abre-se a torneira e caem meia dúzia de gotas… assim não dá.”
Donald Trump tem vindo a reverter muitas das medidas “verdes” adoptadas pelos EUA nos últimos anos, classificando-as como “ridículas”. A poupança “exagerada” de água é a mais recente batalha, depois de em setembro ter conseguido anular a proibição de venda de lâmpadas de halogénio, que iria entrar em vigor nos EUA a partir de 2020. “Querem obrigar-nos a usar LED’s, mas eu não fico nada bem debaixo dessa luz, parece que fico laranja. Prefiro as outras lâmpadas, que são mais baratas e dão uma luz muito melhor”, justificou.
O Presidente discursou durante duas horas, num dos seus habituais “one man show”, no papel de candidato republicano às eleições de 2020. O tema impeachment só foi mencionado uma vez, e para dizer que se estava a divertir muito com “tudo isto”. Agora o processo segue para o Senado, onde há “pessoas boas” que irão “tratar bem deste assunto”, explicou.
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De facto, será no Senado que tudo se irá resolver, e o chumbo da proposta de destituição é o desfecho esperado, uma vez que os Republicanos estão em maioria nesta câmara alta, ao contrário do que sucede no Congresso, de maioria Democrata. Mas até ao lavar dos cestos é vindima, e a presidente da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi está determinada em conseguir um julgamento “minimamente justo”, em que exista pelo menos audição de testemunhas e debate dos artigos a votação (por obstrução e abuso de poder) – algo que o líder republicano no Senado, Mitch McConnell, não garantia, ameaçando acabar com o processo mais depressa do que este havia começado.
“É um facto provado que o Presidente representa uma ameaça à nossa segurança nacional e à integridade das nossas eleições, que constituem as bases da nossa democracia”, disse a presidente do Congresso na quarta-feira, 18, na abertura da votação que, pela terceira vez na história dos EUA, decidiria a destituição de um Presidente.
Como agora será uma equipa de congressistas a fazer o papel da acusação no Senado (tendo um juíz do Supremo Tribunal a presidir ao julgamento, os 100 senadores como jurados, e uma equipa da Casa Branca a defender o Presidente), Nancy Pelosi vai tentar definir algumas regras do jogo, usando as poucas armas ao seu alcance.
Para já, vai “reter” o processo, não revelando quando o passará para o Senado, adiando a votação seguinte o mais possível, quando os Republicanos pretendiam exatamente o contrário. Em ano de eleições, este é um assunto que se quer “enterrado” o mais depressa possível. Mesmo com as sondagens a revelarem um aumento de apoio a Donald Trump, apesar do impeachment, o julgamento da opinião pública pode sempre ter desfechos imprevisíveis.
A partir de sexta-feira, 20, o Congresso e o Senado entram em periodo de férias, e até ao início de janeiro não haverá novidades nesta matéria. Só depois será definida uma data para o julgamento, que poderá durar várias semanas.
Para que Trump seja destituído será preciso que uma maioria de dois terços dos senadores (67 em 100) votem a favor de pelo menos um dos artigos da acusação. Os Democratas só têm 47 senadores, por isso seria necessário que pelo menos 20 republicanos votassem contra o seu Presidente – hipótese que não é sequer considerada, neste momento.
Mas, como este “grande país” nos tem ensinado, todas as histórias podem ter uma reviravolta e um final surpreendente. Há que ficar atento aos próximos capítulos.