A parceria foi assinada no final de outubro e espera-se que possa chegar pelo menos a parte do milhão de crianças que foram afetadas pelo ciclone Idai, que há mais de oito meses atingiu a zona centro de Moçambique. Através da Agência Chinesa para o Desenvolvimento e Cooperação Internacional, o Executivo de Xi Jinping entrega assim dois milhões de euros à UNICEF para ser aplicado em ajuda humanitária.
Recorde-se que o Idai foi considerado o maior desastre natural a atingir o país até agora, e que há ainda milhares de deslocados a precisar de assistência. Mesmo quem conseguiu manter as suas casas tem sofrido com a falta de comida e de produção agrícola, garante de sustento de 80% da população que foi afetada pelo ciclone.
Estes dois milhões de dólares de que a UNICEF vai dispor para a atividade em Moçambique serão utilizados sobretudo na profilaxia de doenças como a malária e na capacitação e reforço das equipas médicas que atualmente já se encontram no terreno, explicou Cynthia McCaffrey, representante da UNICEF na China, aquando da assinatura da parceria. Citada pela imprensa internacional, a responsável recordou ainda que “muitas das crianças afetadas pelo ciclone Idai estão ainda a viver em abrigos sobrelotados, o que aumenta o risco de doenças como diarreira, malária e cólera”.
No mesmo sentido, a União Europeia anunciou também no início de outubro um novo pacote financeiro no valor de 10 milhões de euros para auxílio às vítimas do Idai. Em comunicado, a UE referia que a verba se destina a reforçar a ajuda alimentar e os serviços de saúde nas regiões atingidas, bem como os preparativos para novos desastres, nomeadamente com a distribuição de ‘kits’ de emergência pelo país. “Os ciclones tropicais Idai e Kenneth deixaram um rasto de destruição que ainda é sentido pelos mais vulneráveis em Moçambique”, referia o comissário europeu para as Crises Humanitárias, Christos Stylianides, no mesmo comunicado libertado pela instituição. “Assumimos o compromisso de ajudar Moçambique durante o tempo que for preciso”, reiterou ainda.
Este novo pacote de financiamento junta-se assim aos 17 milhões de euros que logo depois do ciclone foram disponibilizados pelos países europeus aos três países afetados pelo Idai – Moçambique, Zimbabué e Maláui.
Os 28 Estados-membros providenciaram ainda ajuda de longo prazo para a reconstrução do país, tendo sido angariados, na Conferência Internacional de Doadores, que decorreu na Beira, em 31 de maio e 1 de junho, uma verba de 200 milhões de euros. Metade deste valor é proveniente do Fundo Europeu para o Desenvolvimento, enquanto os restantes 100 milhões estão disponíveis na forma de empréstimos do Banco Europeu de Investimento.
Mudam-se os tempos, mudam-se as necessidades
Apesar de toda a ajuda que o país tem recebido, as necessidades parecem não parar de aumentar. Sobretudo quando se espera o início da época das chuvas, que deverá colocar em causa as tão necessárias colheitas.
Recentemente, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) revelou que são necessários 23 milhões de dólares só para fazer face às necessidades mais imediatas das crianças em risco em Moçambique. A organização estima que sejam cerca de 67 mil as crianças que sofrem atualmente de subnutrição, e que este número “poderá aumentar drasticamente sem um apoio sustentado e iniciativas resilientes. Espera-se que a situação se deteriore nos próximos meses e que dois milhões de pessoas enfrentem níveis de crise e emergência no que diz respeito a comida”, lê-se no relatório libertado no final do mês passado.
No mesmo sentido, a ONU – e o Governo moçambicano – estima que o país precise de mais de três mil milhões de dólares para se reerguer dos dois ciclones [o Idai e o Kenneth] que devastaram o centro e o norte de Moçambique este ano.
Entretanto, várias organizações humanitárias nacionais e internacionais continuam no terreno a dar apoio aos 1,8 milhões de pessoas afetadas pelo ciclone, numa altura em que começam a escassear os donativos e a aumentar as dificuldades para manterem as equipas no terreno.