Rui Rio e Assunção Cristas digeriram de forma diferente os amargos resultados das europeias deste domingo. Mesmo assumindo a derrota (mas não o pior resultado de sempre do partido), o presidente do PSD ensaiou um discurso já a pensar nas legislativas de 6 de outubro e pôs sal na ferida do antigo parceiro de coligação que, segundo os dados provisórios, continuará apenas com um deputado em Bruxelas: “Ou o PSD chega a outubro com uma alternativa ao PS ou não há em Portugal alternativa ao PS.”
Num tom algo acossado o líder social-democrata frisou que a opção dos eleitores terá de recair sobre “um projeto à esquerda” (do PS) ou “um projeto ao centro (do PSD) e relegou os centristas para uma posição secundária, depois de, desde as autárquicas de 2017, Cristas reclamar para si a liderança da oposição.
Cristas foi mais branda e apontou a elevada abstenção – “o maior obstáculo” dos democratas-cristãos – e a “polarização” dos votos à direita – com o aparecimento, sobretudo, do Aliança – como causas para o facto de não ter ido além dos 6% das preferências dos portugueses e, por essa razão, ter falhado a eleição de Pedro Mota Soares para o Parlamento Europeu.
Além da alfinetada, Rio reconheceu que o PSD falhou os dois objetivos: perdeu largamente a corrida para o PS e não conseguiu reforçar a representação “laranja” em Bruxelas. “Não atingimos os objetivos pretendidos nesta eleição. Não vale a pena estar com floreados ou a tentar ver números onde eles não existem”, atirou. Responsáveis pelo descalabro? Também não rendilhou e amarrou um putativo sucessor ao insucesso: “A responsabilidade é do PSD como um todo. O dr. Paulo Rangel tem um pouco mais de responsabilidade e eu também.”
Em resposta aos jornalistas, Rio assegurou, contudo, ter condições para ser o candidato às legislativas: “Claro que tenho em condições. Eu não abandono, eu assumo as minhas responsabilidades. Só se estivesse completamente farto, é que aproveitava esta oportunidade para me ir embora e fugir das minhas responsabilidades.”
Já antevendo que os críticos voltem a atacar, respondeu que acredita que o partido estará consigo até às próximas eleições, mas não pôs as mãos no fogo pelo aparelho: “Eu acredito que sim, mas não sou eu que determino isto. Se já foi difícil chegar aqui com turbulência interna, como não será chegar a outubro se entretanto vierem fazer a mesma coisa.” O recado para dentro ficou dado.
Mas também houve alertas para fora sobre a abstenção: “Fizemos todos a campanha de uma forma tradicional. Temos de ser capazes de arranjar novas formas de fazer campanha. A taxa de abstenção é uma derrota para todos os partidos, sem exceção, para os grandes e para os pequenos.”
Quanto aos cabeças-de-lista dos dois partidos, também não se refugiaram em eufemismos ou nas subtilezas que os números por vezes permitem. Paulo Rangel pediu uma séria reflexão sobre a abstenção, condenou a “excessiva nacionalização” da campanha feita por António Costa, mas foi lesto a afirmar que “o partido não atingiu os seus objetivos”. Na sua opinião, todo o partido foi responsável pela derrota, embora tenha sublinhado que a diferença possa servir para “tocar a rebate” até às legislativas.
Nuno Melo, por seu turno, assegurou que o desaire teve “um responsável”, ele próprio. “Não transformo derrotas em vitórias”, acrescentou. Deu um abraço ao número dois da lista, muito aplaudido pelos centristas presentes, e realçou que, apesar de não ter garantido bilhete para Bruxelas, “Pedro Mota Soares é do melhor que Portugal tem”. Para o futuro mais imediato, e dirigindo-se a Cristas, não hesitou: “Sei que o CDS continuará forte (…).”
Certo é que fontes dos partidos de direita ouvidas pela VISÃO temem o efeito deste domingo no caminho rumo às legislativas. Os próximos dias prometem ser tensos.