Num relato que divulgou hoje, Fabrizio Graglia, que vive na Beira, descreveu a ocorrência de ataques a pessoas e invasão de residências, agudizando o desespero que os habitantes da cidade vivem, desde a passagem do ciclone Idai, na quinta-feira da semana passada.
“Na cidade à noite, grupos de pessoas andam a vaguear, ninguém sabe se cortam árvores ou cortam pessoas, pois os números de criminalidade violenta aumentaram consideravelmente, tendo-se registado vários ataques a pessoas e assaltos às casas danificadas e abertas”, relata Fabrizio Graglia.
Sobre as infraestruturas da Igreja Católica na região, Graglia diz que o novo escritório da Esmabama está praticamente destruído e tem de ser guardado pela polícia, guardas da organização e cães, dia e noite.
O edifício da missão católica de Machanga ficou sem telhado e os alunos internos dormem sob as árvores, tendo-se perdido a criação de porcos.
O campo agrícola de Estaquinha perdeu mais de 100 toneladas de milho, quantidade que podia ter alimentado os internatos da região por quatro meses, e todas as máquinas agrícolas estão submersas.
“Um investimento de 200.000 euros engolidos pela água”, observa.
Parte da escola e do centro de saúde da missão de Mangunde está sem teto e as comunidades à volta estão completamente inundadas.
“Alguns dos nossos funcionários e estudantes foram feridos, mas até agora ainda não tivemos notícias de mortes entre os nossos”, lê-se no texto.
Continua a chover torrencialmente, prevendo-se que se mantenha assim nos próximos dias e os rios continuam a aumentar o nível de alerta, prossegue o diretor da Associação Esmabama.
Os países vizinhos, que estão também a ser afetados por chuvas torrenciais, irão seguramente abrir as comportas das suas barragens para evitar que se danifiquem, pelo que se espera ainda mais cheias na região de Sofala.
“Estou consternado e destroçado com este cenário dantesco e com o pânico nos rostos de quem agora teme pela vida e dos seus. Precisamos de ajuda urgente”, alerta.
A passagem do ciclone Idai em Moçambique, Maláui e Zimbabué provocou pelo menos 222 mortos, segundo dados provisórios divulgados pelos respetivos governos na segunda-feira.
Mais de 1,5 milhões de pessoas foram afetadas pela tempestade naqueles três países africanos.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse que o ciclone poderá ter provocado mais de mil mortos em Moçambique, estando confirmados atualmente 84.
O Idai, com fortes chuvas e ventos de até 170 quilómetros por hora, atingiu a Beira (centro de Moçambique) na quinta-feira à noite, deixando os cerca de 500 mil residentes na quarta maior cidade do país sem energia e linhas de comunicação.
Estimativas iniciais do Governo de Maputo apontam para 600 mil pessoas afetadas, incluindo 260 mil crianças.
O Governo português anunciou, na segunda-feira, não ter registo de “cidadãos portugueses mortos, feridos ou em situação de perigo” nas zonas afetadas pela tempestade, mas “várias dezenas perderam casas e bens”.
Lusa