E se Jesus Cristo tivesse sido, afinal, um filósofo da Grécia Antiga de nome Apolónio de Tiana? Parece só mais uma ideia sem fundamento, mas a verdade é que, depois de surgir no documentário Bible Conspiracies (Conspirações Bíblicas, em tradução livre), disponível na Amazon Prime desde novembro de 2017, tem dado – e muito – que falar.
Durante os 67 minutos do filme de baixo orçamento, realizado em 2016, são proferidas várias afirmações destas, que contrariam totalmente o que é dito na Bíblia. O documentário está cheio de animações e imagens de arquivo, sem entrevistas a especialistas ou imagens originais, acompanhadas por um narrador monótono.
Embora tenha mais de dois anos, o documentário, realizado por Philip Gardiner, ganhou agora mediatismo, com várias publicações mundiais a destacarem não só as declarações mais polémicas do filme, como a teoria em torno da história de Jesus. O Sputnik News foi, talvez, o primeiro site a “acordar” o documentário, num artigo com o título “Jesus não era judeu, afirma documentário bombástico”.
“E em relação a essa pessoa, Jesus?”, pergunta o narrador, durante o filme. “Era real? Foi inventada? Seria um alienígena?”, continua. Segundo a Bible Conspiracies, a história de Jesus Cristo, narrada no Novo Testamento, conta, na verdade, a vida do filósofo grego Apolónio de Tiana, que viveu entre os anos 15 e 100 d.C.
O documentário argumenta que Apolónio, descrito como um homem que ganhou imensos fãs e que, alegadamente, realizava milagres, era exatamente a pessoa de quem a Bíblia fala, Jesus Cristo.
Para sustentar esta ideia, o filme sugere que Apolónio de Tiana tinha vários monumentos dedicados a ele, enquanto “nenhuma estátua ou templo foram erguidos por Jesus Cristo”. Além disso, argumenta que os cristãos primitivos ocultaram detalhes de supostos milagres realizados por Apolónio porque a sua preocupação maior era criar a ideia de um Cristo com a sua “própria vida factual”.
“Há evidências que provam que Apolónio existiu”, diz o narrador. Pelo contrário,continua, “ninguém pode dizer com convicção que Jesus era uma pessoa real”.
A afirmação de que Jesus não existiu genuinamente já que não há evidências que sustentem essa ideia, não faz sentido para vários especialistas.
Ao The Independent, Simon Gathercole, professor de Estudos do Novo Testamento da Universidade de Cambridge, disse que Apolónio de Tiana foi uma figura muito conhecida, que frequentemente fazia comparações com Jesus, mas que não há, nem houve, qualquer dúvida relativamente à existência de Cristo.
“Não há dúvida de que Jesus era judeu e não grego”, afirma. Contrariando completamente os argumentos apresentados no documentário, o especialista defende a possibilidade de que a primeira biografia de Apolónio possa ter relatos de acontecimentos da vida de Jesus Cristo.
“A biografia de Apolónio foi escrita quase 200 anos depois das cartas de Paulo, quando os evangelhos eram já muito conhecidos”, referiu o especialista.