O ator Liam Neeson está a ser acusado de racismo por vários ativistas de direitos humanos e a ser duramente criticado nas redes sociais, depois referir, numa entrevista ao The Independent, que teve vontade de matar um homem de raça negra.
As declarações surgiram na sequência de uma entrevista a propósito do novo filme que o ator protagoniza, Vingança Perfeita, que estreou quinta-feira em Portugal.
Durante a conversa, Liam Neeson contou a história de uma amiga que foi violada há 40 anos e disse que o responsavél tinha sido um homem negro. “Durante uma semana, vagueei pelas ruas com um bastão na mão, na esperança de ser abordado por alguém”, contou o ator. “Na esperança – e tenho vergonha de o admitir – de que um sacana de um negro saísse de um bar e se metesse comigo por uma razão qualquer, percebe? Só para que eu pudesse matá-lo”, admitiu.
As suas declarações não caíram muito bem e os insultos começaram imediatamente a surgir. A estreia do filme em Nova Iorque foi, até, cancelada, devido à dimensão da polémica apenas duas horas depois da publicação da entrevista.
Na última terça-feira, o ator de 66 anos foi ao programa Good Morning America para tentar defender-se, afirmando não ser racista. Liam Neeson referiu que reagiria da mesma forma, isto é, com o mesmo instinto de violência e vingança, se o violador tivesse sido um “um britânico, um escocês ou um lituano”.
Embora o ator tenha referido que, às vezes, as pessoas têm atitudes racistas e fanáticas mesmo sem o serem, e ter afirmado estar arrependido do seu comportamento, o que é certo é que as suas declarações não vão ser esquecidas tão cedo, principalmente neste momento em que movimentos como o #MeToo têm surgido em força.
Durante a entrevista, o ator Tom Bateman, que integra o elenco do novo filme e estava ao seu lado no momento das declarações polémicas, ficou chocado e lançou um “credo” para o ar, assim conta o The Independent.
O que ainda não se sabe, agora, é de de que forma esta situação vai influenciar a sua carreira. A verdade é que Liam Neeson tem protagonizado, ao longo dos anos, vários filmes de ação que esgotam as salas de cinema, como o Taken, mas o seu nome não aparece na lista das celebridades mais bem pagas do mundo divulgada pela Forbes desde 2015, ficando apenas em 22º lugar (com 19,5 milhões de dólares arrecadados).
Ironicamente, em maio do ano passado foi revelado que Liam Neeson será o protagonista do filme Charlie Johnson in the Flames, um thriller que conta a história de um jornalista americano da BBC que viaja até África para apanhar um coronel que cometeu homicídios e levá-lo até à justiça. A questão agora, é se o público está disposto a ver o ator interpretar uma personagem deste tipo, depois de ter revelado o seu instinto de violência por um “sacana negro” qualquer.
Outras figuras públicas que fizeram declarações racistas e porque é que a internet pode ser a maior sentenciadora
Marlon Brando
Nos anos 90, mais de metade dos cargos de gestão em Hollywood eram ocupados por pessoas judaicas. Durante uma entrevista no programa de televisão do apresentador Larry King, o ator Marlon Brando disse que os judeus são sempre retratados como bem humorados, amorosos e generosos, mas que não têm sensibilidade em relação às minorias. “São sempre demasiado cuidadosos de forma a garantir que não passa qualquer imagem negativa dos judeus”, referiu. A polémica instalou-se e o ator foi acusado de ser antissemita.
Mel Gibson
Em julho de 2006, o ator e realizador norte-americano, agora com 63 anos, proferiu insultos antissemitas a polícias que o detiveram por estar a conduzir com uma taxa de alcoolemia uma vez e meia superior ao limite autorizado. O ator foi condenado a três anos de prisão com pena suspensa e a 1300 dólares de multa.
Já em 2010, o site TMZ divulgou uma gravação de um telefonema de Mel Gibson para a sua ex-companheira, Oksana Gregorieva, onde a insultava. Na gravação, entregue ao juíz, o ator disse que não ficava surpreendido caso, um dia, ela fosse “violada por um bando de pretos”, entre outros insultos. Mel Gibson ficou três anos em liberdade condicional e foi obrigado a prestar 16 horas de serviço comunitário.
Depois de 10 anos afastado de Hollywood, Mel Gibson foi, em 2016, aceite novamente, com a realização do filme O Herói de Hacksaw Ridge, um drama de guerra baseado numa história verídica, que recebeu críticas muito positivas. O ator foi, até, nomeado para o Oscar de Melhor Realizador nesse ano.
Gary Oldman
Em 2014, numa entrevista à revista americana Playboy, o ator britânico proferiu comentários ofensivos aos judeus, defendendo as declarações feitas por Mel Gibson em 2006. “Somos todos hipócritas. Os polícias que o prenderam nunca usaram a palavra “crioulo” ou “aqueles malditos judeus”? Estou a ser muito honesto, é a hipocrisia que me deixa louco”, disse.
Mais tarde, através de um comunicado, o ator pediu desculpa e referiu estar “profundamente arrependido” pelas declarações antissemitas que tinham, provavalmente, ofendido muitos judeus.
Mark Wahlberg
Em 1988, o ator Mark Wahlberg, na altura com 16 anos, foi acusado de perseguir três crianças de raça negra e de as insultar, proferindo vários comentários ofensivos. Dois anos depois, foi detido por insultar e agredir um homem vietnamita. O ator foi acusado por tentativa de homicídio, declarando-se culpado.
Contudo, o passado violento de Mark Wahlberg não o impediu de se tornar uma celebridade mundial de sucesso, protagonizando vários filmes, como o Ted, ao longo dos últimos anos.
Mas, caso os crimes cometidos pelo ator tivessem acontecido 20 anos depois, a internet talvez não tivesse permitido que estas histórias caíssem no esquecimento.