Não há nada mais comum do que a criação de galinhas para ter ovos frescos… a não ser que se esteja a falar de Sillicon Valley, na Baía de São Francisco, Califórnia. O mesmo local que serve de morada às maiores e mais inovadoras empresas tecnológicas internacionais é agora, segundo uma extensa reportagem do Washington Post, palco de uma nova forma de exibir um certo estatuto: Não um Tesla, mas galinhas poedeiras.
A criação, no entanto, é feita à moda de Silicon Valley: Estes improváveis criadores chegam a investir 20 mil dólares (mais de 16 mil euros) em galinheiros hi-tech (claro), mantêm um registo pormenorizado da sua produção (incluindo a cor dos ovos), ao mesmo tempo que tentam manter as suas galinhas felizes.
Se uma galinha custa 15 dólares (cerca de 12 euros) em grande parte dos EUA, em Silicon Valley há quem pague mais de 350 (perto de 300 euros) por uma ave, que se quer com traços de “personalidade” específicos (como ser tranquila o suficiente para deixar que uma criança lhe faça festas), rara, bonita e com capacidade para pôr ovos com cores específicas, como as populares Easter Eggers, que têm um gene que as faz pôr ovos de um azul claro.
Ao investimento inicial (há quem se fique pelas quatro ou cinco mas também quem queira 15 ou 20), somam-se, conta o jornal, contas exorbitantes de veterinário e uma dieta requintada (para galinha, pelo menos) de “salmão orgânico, melancia e bife”. Mas voltemos aos galinheiros: Os criadores de Silicon Valey contratam construtores e chegam a gastar 20 mil dólares, que incluem painéis solares, portas automáticas, luz elétrica e câmaras de vídeo para poderem acompanhar todos os momentos das suas galinhas (e mostrar a quem quiser ver).
Por e-mail, Moira Hanes contou ao Washington Post que em Silicon Valley as galinhas são muitas vezes consideradas “membros da família”. No seu caso, Gwennie, que só tem um olho, é um “animal de apoio emocional”, a quem tem de alimentar com comida de bebé. O bicho, garante a dona, também adora o seu ritual semanal de tomar banho e secar-se com secador.
Leslie Citroen tem 54 anos e oferece tudo o que um proprietário de galinhas pode precisar: vende animais, constrói galinheiros e ainda dá apoio, ao estilo “encantadora de galinhas”, por 225 dólares por hora. Tem tido milhares de clientes e sabe algumas histórias: como, por exemplo, que um dos seus clientes tem um chefe para cozinhar para as suas galinhas; e o que os motiva: “Depois de passarem os dias à frente do computador, aspiram a uma ligação com a natureza”.
É o caso de Johan Land, gestor de produto do Waymo (o projeto de carros sem condutor da Google), que encontrou na observação das suas 13 galinhas e três ovelhas uma forma de desviar o olhar do ecrã e relaxar, com um copo de vinho. “É uma coisa fascinante sentar-me e ver os animais porque em vez de olhar para um ecrã, estou a olhar para o ciclo da vida”, resume Land.
Citroen faz um resumo mais pragmático: “É um símbolo absoluto de status”. Ou como diz o filho de 19 anos, que cresceu a acompanhar o negócio, “poder dizer que se tem galinhas diz ‘eu tenho um quintal’ e ter um quintal diz ‘eu tenho espaço’ e ter espaço diz que se tem dinheiro, sobretudo quando de trata de Silicon Valley”.