Quando chegamos perto de um ponto de campanha da FDP, em Berlim, já não vimos só as tradicionais cores amarelas e azuis dos liberais alemães, que costumavam ser a terceira força partidária no país. Agora, o rosa choque, muito pop, também faz parte do cenário. Depois dos resultados desastrosos nas eleições para o Parlamento em 2013, em que a FDP desceu dos quase 15% em 2009 para abaixo dos 5% e desapareceu do Parlamento, o partido teve de tirar um coelho da cartola para se reencontrar e conquistar a atenção do velho e do potencialmente novo eleitorado. Na Alemanha, o coelho tem um nome: Christian Lindner.
Lindner é tão choque como a cor que o partido escolheu para simbolizar a nova fase da sua vida. E Pop podia ser o seu nome do meio. Todo ele é “hippen”, a palavra alemã para trendy ou moderno. Lindner usa e abusa da sua frescura e juventude (38 anos) para fazer campanha – não há selfie que recuse tirar nem aperto de mão energético que fique por dar.
Na penúltima edição, a Spiegel chamava-lhe “Selfiemademan”, e citava o facto de ser comparado pela Internet a um vendedor de Bimbys, facto de parecia corroborar com a descrição que fazia do candidato. “Confiem em mim, por favor!” são as palavras de ordem que usa para convencer o eleitorado nas abordagens de rua cara a cara.
Harmut Ebbing confia com toda a certeza. Ebbing é candidato direto a um lugar no Bundestag pela FDP, no círculo de por Steglitz-Zehlendorf, em Berlim, um bairro rico e conservador, tradicionalmente leitor da CDU. Ebbing tem 61 anos, cabelos brancos, um sorriso amistoso, e muita confiança de que este rapaz vem a ser a salvação do partido que passou um mau bocado nas eleições anteriores. “Durante anos a FDP pensou que não precisava de fazer nada, acreditou que o eleitorado estava garantido. Grande erro, não estava. Estivemos demasiado preocupados com as questões económicas e deixámos de ter opinião sobre o resto dos assuntos. Hoje temos uma opinião sobre todos os assuntos e Lindner é a pessoa certa para espelhar esta nova atitude”, explica à VISÃO o candidato, enquanto atrás dele uma banda jazz que dá música a quem passa na rua. É um facto. Lindner tem opinião sobre tudo… e mais alguma coisa.
A economia livre é o ponto chave, naturalmente, do partido a quem os críticos chamam neo-liberal. A presença do estado deve reduzir-se ao essencial, e o essencial é para a FDP muito pouco: segurança e pouco mais. Quando questionado sobre se advoga educação e saúde gratuitas, Ebbing acede: “Sim, saúde e educação para os mais pobres faz sentido. Mas os mais ricos não precisam de nós para isso, temos de os deixar em paz fazer as suas vidas, intervindo o menos possível. O que queremos é puxar para cima a sociedade, que os mais pobres subam e não nivelar por baixo”, simplifica.
Não é de estranhar que a FDP seja o partido que mais atrai os empresários e os que auferem salários mais altos, ao mesmo tempo que é o que tem menos eleitores trabalhadores por conta de outrem. Os únicos rivais são, nalguns pontos, os Verdes, urbanos e modernos, que adoptaram as causas ecológicas como bandeira.
A atender às últimas sondagens, a FDP pode bem conseguir recuperar algum fôlego mas não o brilho do passado. Davam-lhe assentos no Parlamento (só acima dos 5% é que os Partidos têm lugar no Bundestag), mas algures perto dos 8%.
“Ele será óptimo no Parlamento como oposição”, assegura Ebbing. Ou mesmo, quem sabe, como parceiro de coligação da “Mamã” Merkel.