Um simples biquíni de duas peças, vestuário banal nas praias portuguesas e de muitos outros países, tornou-se um símbolo libertário na Argélia, onde as mulheres são cada vez mais pressionadas a usar burquínis, a peça de banho que cobre o corpo todo, exceto a cara, as mãos e os pés.
“Nos últimos dois ou três anos, ir à praia é difícil. Às vezes vejo-me sendo a única a usar biquíni, quando antes éramos a maioria”, diz Warda, membro de um grupo no Facebook a favor do uso do biquíni na Argélia, em declarações ao canal francês France Info.
Na Argélia, país do Norte de África que sempre atraiu bastantes turistas ocidentais, não é proibido usar biquínis na praia; mas, como sublinha o jornal inglês The Independent, as mulheres são cada vez mais pressionadas a vestir de forma conservadora quando vão a banhos. E o uso do burquíni está cada vez mais entranhado.
Depois de uma campanha pública em que os homens argelinos diziam que o uso do biquíni está contra os valores do país, as mulheres da cidade costeira de Annaba organizaram vários protestos levando para a praia as duas peças de vestuário tão controversas.
Sempre foi assim, mesmo no mundo ocidental. O “medo” do biquíni não é algo exclusivo do Islão. Quando o biquíni moderno foi introduzido, depois da Segunda Guerra Mundial, a Igreja Católica também se “arrepiou” com tão “escandalosa” vestimenta.
No primeiro concurso de Miss Mundo, em 1951, as candidatas chegaram a desfilar em biquíni, mas a peça foi logo banida. Mas o “mal” estava feito e o uso do biquíni tornou-se imparável, sobretudo quando as atrizes famosas se deixavam fotografar na praia, em Cannes. Com Brigitte Bardot a fazer parar o trânsito.
Até hoje – e não só nos países de religião maioritariamente islâmica, mas também no mundo ocidental, católico ou protestante – ainda correm rios de tinta com polémicas sobre o biquíni (ou porque “sexualiza as crianças” ou porque “fica mal nas mulheres com curvas”, vulgo “gordas”). E por isso ele continua a ser um símbolo da emancipação das mulheres, do “vive e deixa viver”.