Para alguns opositores de Donald Trump, a questão tem razão de ser: quando se diz que o presidente americano tem problemas mentais estamos a insultar quem? E usar a doença mental como insulto não revela um enorme preconceito contra quem dela padece?
Este é o ponto levantado por Julia Gillard, antiga primeira-ministra australiana, pelo partido trabalhista, numa entrevista à cadeia de televisão ABC. “De fora, é muito difícil de avaliar o estado mental de uma pessoa, pelo que é preciso muito cuidado”, disse, acrescentando, no entanto, que “alguns comentadores não estão a fazer essa análise como forma de insulto, mas porque estão genuinamente preocupados”.
Depois de verem o mais recente e polémico comentário no Twitter talvez se preocupem ainda mais. Donald Trump divulgou, nesta rede social, um vídeo em que aparece a bater num homem com a cara coberta pelo logotipo da CNN.
A estação de notícias logo lamentou que “o Presidente dos Estados Unidos encoraje a violência contra repórteres”. “Continuaremos a fazer o nosso trabalho, ele deveria começar a fazer o dele”, disse o porta-voz da CNN.
Mas este não foi o único tweet recente de Trump contra a comunicação social. Ainda há pouco tempo ele caracterizou os apresentadores Joe Scarborough e Mika Brzezinski, da MSNBC, como “doido” e “burra que nem uma pedra”, respetivamente.
Aliás, os seus ataques contra Mika Brzezinski foram mais longe, dizendo que ela lhe apareceu uma vez em Mar-a-Lago, o seu resort de férias na Flórida, querendo vê-lo, tendo ele recusado porque Mika “sangrava terrivelmente devido a um lifting facial”.
E depois de tudo isto o que diz Melania Trump, que definiu como prioridade do seu “mandato” de primeira-dama o combate ao cyberbulling? Parece brincadeira, tendo em conta que o marido é chamado por muitos um “troll” do Twitter.
“Tal como já havia afirmado no passado, a primeira-dama diz que quando o seu marido é atacado, ele contra ataca com 10 vezes mais força”, reforçou Stephanie Grisham, porta-voz de Melania.
Os jornalistas e apresentadores do programa matinal Morning Joe é que não se ficaram. “A obsessão insana do presidente com o Morning Joe não beneficia o seu estado mental nem do país que ele dirige”, escreveram num artigo publicado no Washington Post, intitulado “Trump, por favor, pare de nos ver”.
E que diz Julia Gillard de tudo isto? “Claro que se o presidente Trump continua com os tweets que temos visto, o seu estado de saúde mental continuará a estar presente nas conversas”, diz. Não há volta a dar.
Mas a antiga primeira-ministra da Austrália não olha para a saúde mental de forma leviana, reconhecendo que teve vários momentos de grande ansiedade enquanto ocupava o cargo.
“Eu via os títulos negativos dos jornais – e os comentários horríveis nas redes sociais – e pensava, conscientemente, que tinha de fazer escolhas sobre quanto disto eu iria deixar que me afetasse. Quanto veneno eu iria permitir que ficasse comigo?”, conta.
No caso de Donald Trump a palavra é mesmo essa, veneno. E também se sabe quem é o seu maior destilador.