Uma galáxia é feita de estrelas, gás e poeira. Há galáxias novas e cheias de vigor, onde se formam novas estrelas, outras na meia idade, já estabelecidas, e outras ainda que já chegaram à velhice e têm fraca atividade.
Perceber os caminhos percorridos desde a aparecimento de uma galáxia, a sua evolução e morte é um dos objetivos mais ambiciosos da Astronomia. Para o fazer, a luz é a ferramenta principal. Estudar todas as componentes da mesma – infra-vermelhos, raio-X, luz visível, tudo o que compõe o espectro – é a única forma de o fazer, já que não podemos, pelo menos ainda, andar pelo Universo fora a recolher amostras de gás ou pedaços de estrelas.
Para estudar a radiação emitida, usam-se modelos matemáticos, que pretendem descrever o melhor possível o que se passa nestes ambientos ricos e tumultuosos. Só que até agora, todos os modelos usados não incluíam o gás. Ou seja, serviam para descrever as estrelas, mas quando chegava à parte do gás, começavam a falhar. Por isso, este era eliminado da equação. “Nos anos 60, vários estudos apontavam esta falha. Defendia-se que o gás ionizado faz muita diferença. Mas entretanto parece que houve uma amnésia coletiva e todos passaram a usar modelos que consideram exclusivamente em estrelas”, nota Jean Michel Gomes, investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço.
Decidio a corrigir esta falha, o astrónomo e a sua equipa começaram a procurar modelos matemáticos que pudessem ser mais exatos. E lembraram-se de recorrer a um conhecido algoritmo genético – um modelo matemático que descreve o ADN e a forma como os organismos vivo se reproduzem e morrem. Considerando a galáxia como um organismo único, as bases que compõem o ADN passaram a ser os elementos que caracterizam as galáxias. E tudo começou a bater certo. “Conseguimos uma representação mais realista, que já inclui o gás”, revela Jean Miguel Gomes.
À ferramenta matemática, chamaram Fado, destino, na sua origem em latim. Porque cada galáxia tem uma história, um destino traçado, que agora poderá começar a ser revelado com mais detalhe. “Todos os trabalhos feitos até agora, de estudo da evolução de galáxias, terão de ser revistos”, sublinha o astrónomo.
Depois de testado para os vários tipos de galáxias, das mais novas às mais antigas, e de se verificar que funciona bem, quando comparado com os dados recolhidos, o modelo desenvolvido pela equipa do Instituto de Astrofísica foi publicado num artigo na revista Astronomy&Astrophysics.