Afinal parece ter sido fácil encontrar um substituto para Matteo Renzi. Em 48 horas, o presidente da República italiano, Sergio Mattarella, aceitou a demissão do primeiro-ministro, convocou os partidos e incumbiu o até agora ministro dos Negócios Estrangeiros, Paolo Gentiloni para a difícil tarefa de governar Itália nos próximos tempos.
Descendente da nobreza, Gentiloni é um romano de 62 anos, com origens comunistas e católicas, que além de político é jornalista de formação. É casado com a arquiteta Emanuela Mauro e não têm filhos. Mantém excelentes relações pessoais com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, e é muito próximo do ex-secretário de Estado americano John Kerry. Segundo a imprensa italiana, ama a ópera, um bom vinho, ler e jogar ténis.
Foi deputado desde 2001 e tinha sido portavoz de Francesco Rutelli, o antigo presidente ecologista de Roma. Em funções governativas para além de ministros dos Negócios Estrangeiros de Renzi, tinha sido ministro das Comunicações no Governo de Romano Prodi.
O facto de não ter um grande currículo na política tem sido apontado como crítica à sua nomeação, mas sobra a ideia de que tanto o presidente como o próprio Renzi tentaram encontrar um substituto discreto e tranquilo que não aumente a fúria dos movimentos populistas em Itália, com destaque para o Movimiento 5 Estrellas de Peppe Grilo. Gentioloni é conhecido por ter um caráter tranquilo e ser fluente em várias línguas – inglês, francês e alemão.
Em 2014 tinha substituido a então chanceler Federica Mogherini, atual chefe da diplomacia europeia, e é visto como um homem de confiança e leal a Renzi, pelo que muitos críticos admitem que ele continuará a ser uma sombra do primeiro-ministro demissionário. “Gentiloni é o avatar de Renzi”, reagiu Luigi Di Maio, do Movimento 5 Estrelas (M5S), uma das formações políticas que rejeitaram a nomeação e que pediram eleições antecipadas. “É a marioneta da marioneta Renzi”, comentou Giorgia Melloni, líder do movimento de extrema direita Fratelli d’Italia.
Um dos dossiers mais urgentes que tem em mãos é a “harmonização” das leis eleitorais, sem a qual Itália se arrisca a ficar ingovernável em caso de eleições antecipadas. É que em maio de 2015 foi aprovado uma lei que concede uma bonificação à maioria vencedora na Câmara dos Deputados, mas no Senado o sistema continua a basear-se na proporção. Este é o seu trabalho prioritário, mas quando o tiver concluído pode também ser o fim do seu mandato como primeiro-ministro. Um porta-voz do Partido Democrático admitiu logo no sábado que “o objetivo é ir às eleições no mais breve tempo possível.
O sangue azul corre-lhe nas veias. É descendente da família do conde Gentiloni Silveri, nobre de Filottrano, de Cingoli e de Macerata. Apesar da educação católica e de ter frequentado escolas e liceus católicos de Roma teve uma adolescência repleta de actos de rebeldia. Em 1970, fugiu de casa para participar numa manifestação em Milão e militou no movimento de esquerda maoísta, para depois iniciar uma longa carreira dentro do setor mais moderado da esquerda.
Ex-jornalista, formado em Ciências Políticas, trabalhou em várias publicações, entre elas “Pace e Guerra”, e foi diretor da publicação mensal do movimento ecológico Legambiente, “La Nuova Ecología”.