A morte de dois homens negros por agentes da polícia, em 24 horas, poderia ter sido apenas mais um dado para a estatística nos Estados Unidos – houve mais de 300 no ano passado. Mas, em vez disso, alimenta discussões, noticiários e protestos de uma costa à outra. É que há vídeos dos acontecimentos, gravados com telemóveis, que põem em xeque a atuação da polícia: afinal, porque é que dispararam a matar?
É a pergunta que todos fazem na América. As duas vítimas, Alton Sterling e Philando Castile, morreram depois de terem sido baleadas à queima-roupa, com vários tiros, e não se vislumbra nas imagens, em ambos os casos, qualquer ação capaz de pôr em risco a segurança dos agentes. Por isso a resposta mais ouvida é: porque eram negros.
Na terça-feira à noite, a polícia de Baton Rouge, no estado do Louisiana, foi chamada a uma loja de conveniência. O grupo Stop Violence Inc., que se dedica a filmar as operações policiais para as fiscalizar, estava a ouvir e seguiu para o local. O queixoso seria um sem-abrigo e alegava estar a ser ameaçado por um homem armado.
Alton Sterling, que vendia CD’s e DVD’s à porta da loja há seis anos, foi detido pelos dois agentes destacados, que o imobilizaram no chão e a seguir, após um deles gritar “ele tem uma arma”, o outro disparou. Há dois vídeos deste momento, um do Stop Violence Inc. e outro do dono da loja de conveniência e amigo da vítima, Abdullah Muflahi. As imagens não permitem tirar conclusões definitivas, mas no mínimo levantam dúvidas sobre a necessidade de abater o suspeito.
“Não creio que Alton tenha feito algum movimento. A pistola dele nunca esteve visível”, afirmou Muflahi à CNN.
ATENÇÃO, este vídeo tem imagens chocantes:
A polícia abriu um inquérito, suspendeu os agentes envolvidos e está a analisar todos os vídeos disponíveis. Além dos dois realizados por telemóvel, há imagens das câmaras dos polícias e do sistema de videovigilância da loja.
“Queremos saber o que aconteceu, queremos saber a verdade”, comentou Carl Dabadie, comandante da polícia local.
No dia seguinte, o telemóvel de Lavish Reynolds entrou em direto no Facebook após o seu namorado ter sido baleado por um polícia, em Falcon Heights, estado do Minnesota. Seguiam de carro com a filha dela, de quatro anos, no banco de trás, e foram mandados parar “por causa de um farolim avariado” que afinal não estava, de acordo com a mulher. Que começou a gravar e a descrever tudo o que se passara enquanto o namorado sangrava, até perder a vida.
Segundo ela, o polícia pediu a identificação e a carta de condução ao namorado e foi quando este meteu a mão ao bolso que sofreu os disparos fatais. Isto apesar de ter avisado o agente de que tinha uma arma, “com licença de porte”, e que ia apenas tirar os documentos para lhe mostrar, conforme solicitado.
A versão dos acontecimentos de Lavish Reynolds consta do vídeo de quase dez minutos que fez com o telemóvel. Nele, também está a sua detenção pelas autoridades, seguida de gritos de desespero que levam a filha a tentar acalmá-la: “Está tudo bem, estou aqui contigo”.
Tal como no caso de Baton Rouge, o agente foi suspenso e aberta uma investigação.