Aos 51 anos, dos quais 27 passados nas prisões chinesas, Miao Denshu é descrito por antigos co-prisioneiros como um homem agastado e magríssimo. Subnutrido, sofrerá também de perturbações mentais e de hepatite B.
O sistema prisional chinês tem sido, ao logo de quase três décadas, parco na divulgação de informação sobre aquele que se julga ser o último ativista dos protestos de 1989 na Praça Tian An Men (Porta da Paz Celestial), em Pequim, ainda preso.
No início desta semana, ainda havia dúvidas se o antigo operário fabril, oriundo da província de Hubei, estaria vivo. Mas desfizeram-se oficialmente: Miao ainda não morreu e será libertado em outubro.
O anúncio foi feito esta segunda-feira, 2, pela organização de direitos humanos chinesa Fundação Dui Hua, a partir da sua sede em São Francisco da Califórnia, Estados Unidos.
“Miao Deshun, o último prisioneiro conhecido a cumprir pena por ilícitos cometidos durante os distúrbios de junho de 1989 em Pequim, deverá ser libertado da prisão de Yanqing em menos de seis meses”, anunciou John Kamm, diretor da fundação, cuja atividade central é ao apoio aos prisioneiros de consciência na China.
Kamm terá recebido a informação diretamente das autoridades chineses de que, em 2012, Miao viu a sua pena reduzida em um ano. E que depois do pedido de atualização de informações sobre o recluso feito pela Dui Hua, em janeiro deste ano, a pena de Miao terá sido novamente revista e reduzida em mais 11 meses, por bom comportamento.
Acusado do crime de fogo posto, Miao Deshu tinha 25 anos quando foi condenado à morte com suspensão de dois anos, a 7 de agosto de 1989. Alegadamente terá, juntamente com quatro colegas de trabalho, atirado um cesto para sobre de um blindado que já estava a arder.
Apesar de não ter recorrido da sentença viu a pena capital comutada em prisão perpétua, em 1991. Sete anos depois, esta seria reduzida para 20 anos
Segundo a fundação, Miao não mantém, há anos, qualquer contacto com o mundo exterior. A família dexou de o visitar há dez anos. O que terá acontecido a seu pedido. Antigos co-prisioneiros recordam-no como um homem doente e contam que ele sempre se recusou admitir ter praticado qualquer crime e a participar nos trabalhos da prisão. Por causa disso, passou muito tempo em prisão “solitária”. Do pouco que se sabe com um elevado grau de certeza é o facto de em 2003 ter sido transferido para a cadeia de Yanqing, um estabelecimento prisional que dispõe de uma ala específica para doentes, idosos e deficientes.
De acordo com os dados oficiais chineses, 1.602 pessoas foram condenadas a pesadas penas de prisão na sequência do esmagamento violento dos protestos pacíficos da praça de Tian An Men. Muitos foram mantidos em campos de detenção por longos períodos ou condenados à reeducação através do trabalho – um eufemismo para trabalhos forçados.