Lee Young-guk tinha apenas 17 anos, em 1978, quando´recebeu “a honra” de ser chamado a integrar o contingente de guarda-costas de Kim Jong-il, que viria a ser o líder norte-coreano entre 1994 e 2011 e pai do atual líder norte-coreano, Kim Jong-un.
Hoje, com 55 anos, recorda à BBC, à margem do Conselho dos Direitos Humanos (CDH) que começa esta segunda-feira em Genebra, Suíça, o que passou quando passou de homem de confiança a acusado de traição e foi enviado para um campo de trabalhos forçados, onde teve de comer “ratos, cobras” e até “excrementos de animais”.
Depois de um longo e intensivo ano de treino físico e psicológico, Lee passou outro ano a preparar-se especificamente para ser um dos 500 guarda-costas oficiais de Kim Jong-il. “Tivemos lições sobre a vida da família e de Kim Jong-il. Queria mostrar-se ainda mais poderoso do que o seu pai: era retratado como um deus, uma figura sagrada e intangível. Fomos submetidos, realmente, a uma lavagem cerebral.”
Lee serviu o futuro líder da Coreia do Norte como segurança durante 11 anos, até o seu irmão se tornar motorista de Kim Jong-il – apenas um elemento de cada família podia trabalhar para o regime. De regresso a casa, o pesadelo começou em 1994, quando decidiu atravessar a fronteira com a China e foi detido por agentes norte-coreanos. O episódio valeu-lhe o envio para os temidos campos de trabalho de Pyongyang, onde passou quatro anos e sete meses. Durante aquele período, trabalhou 14 horas por dia, em condições desumanas: “Tínhamos uma vida de animais, aquilo não era humano”, recorda. “Para sobreviver, comíamos ratos ou cobras. Muitas vezes, tivemos que comer os excrementos dos animais”, acrescenta.
Apesar do espaço, “a 10 metros do acampamento, destinado às execuções dos que tentavam fugir (ou que eram apanhados a roubar alimentos), Lee conseguiu escapar para a Coreia do Sul, juntando-se aos cerca de 25 mil norte-coreanos que hoje se exilam no país vizinho.
O Comité para os Direitos Humanos na Coreia do Norte, com sede em Washington, estima que o país mantenha hoje cerca de 120 mil prisioneiros nos campos de trabalhos forçados.