Tem 52 anos, é o primeiro-ministro da Hungria e tem sido o mais vocal opositor de uma política aberta da União Europeia face à crise humanitária com os refugiados. É ele o líder, mediático que seja, do chamado grupo de Visegrado – Polónia, República Checa, Hungria e Eslováquia – que ameaça partir o continente em dois: o bloco dos ex-satélites soviéticos (com a Roménia e alguns dos bálticos à mistura), e os outros, os países mais antigos do bloco europeu.
Mas Orbán representa um perigo maior para a Europa do que a mera discordância conjuntural. Na verdade, o antigo liberal e social-democrata percebeu, na ressaca da caída do muro, que havia lugar para um nacionalismo de pendor conservador, retrógrado e algo racista – e para aí dirigiu a Aliança dos Jovens Democratas (Fidesz), primeiro, e o próprio Estado Húngaro, depois. Foi eleito com duas maiorias absolutas seguidas, mas despreza a chamada democracia liberal, que acusa de fraca e falida.
Propõe-se, ao invés, criar um modelo que se inspira noutras paragens: Em Singapura, na Turquia, na Rússia – tudo estados que, na boa hipótese, se podem chamar “democracias musculadas” (na má, são autocracias). E existe muita gente no Velho Continente a olhar para o seu “modelo”, antecipando um viragem tectónica em países como a França, que pode muito bem eleger Marine Le Pen para presidente, já em 2017, ou noutros, como a Holanda, a Dinamarca, a Bélgica, onde a extrema-direita aguarda a sua oportunidade.
Trata-se de um “cruzado” europeu que se vê a si próprio como uma defensor da cristandade – mesmo que advogue precisamente o contrário do que o Papa Francisco: uma Europa solidária e aberta à receção dos refugiados da Síria, do Iraque, da Eritreia e da Líbia. Um retrato de Viktor Orbán e de como ele vem minando as instituições democráticas do seu país, denunciando a suposta sovietização da Hungria face a Bruxelas, com a complacência dos seus homólogos do Partido Popular – onde se incluem o PSD de Passos Coelho e o CDS de Paulo Portas. Como pode a Europa dos 28 albergar – e financiar – um estado que recusa o essencial dos seus valores humanistas? Para ler, na VISÃO desta semana.
Orbán dixit
- “O que se passa agora é uma invasão. Estamos a ser invadidos”, disse no Parlamento húngaro, a 21 de setembro de 2015, comentando a vaga de refugiados de guerra
- “Mas alguém se refere a Horthy como um ditador?”, afirmou em entrevista à Die Presse, em 16 de junho de 2012. Miklós Horthy conduziu a Hungria a uma aliança com a Alemanha nazi e abriu caminho ao Holocausto no país
- “A Hungria deve manter a pena de morte na sua agenda”, uma afirmação de 19 de maio de 2015, frente ao Parlamento Europeu, em Estrasburgo
- “Nós não queremos uma sociedade multicultural”, respondeu ao Frankfurter Allgemeine Zeitungem, a 5 de fevereiro de 2015
- “Os checks and balances são uma invenção norte-americana que a mediocridade intelectual europeia aderiu”, garantiu, em entrevista à Bloomberg, em dezembro de 2014
- “Um dos grandes temas do pensamento político de hoje é compreendermos aqueles sistemas que não são ocidentais, não são liberais, não são democracias liberais e talvez nem sejam democracias. Hoje, as estrelas da análise internacional são… Singapura, China, India, Rússia, Turquia”, afirmou num discurso na Universidade de Verão, em Tusnádfürd? (Baile Tusnad), na Roménia, a 26 de julho de 2014
- “A força do soft power americano está em declínio, por causa da corrupção, sexo e violência que emanam dos valores liberais e degradam a América e a modernização americana”, idem, ibidem
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LEIA O PERFIL COMPLETO NA VISÃO DESTA SEMANA, QUINTA-FEIRA NAS BANCAS