Lembra-se do El Niño? Em 1997 tornou-se mundialmente conhecido pelo “enlouquecimento” do tempo no planeta, desde as enormes secas que provocou na Indonésia e na Austrália às enormes inundações no Peru e deslizamentos de terra na Califórnia.
O que os especialistas agora prevêem é que, com o aquecimento das águas no Oceano pacífico, esteja a formar-se um El Niño de intensidade ainda superior ao fenómeno de há 18 anos.
O centro de previsão meteorológica norte-americano afirma que há mais de 90% de probabilidade que o El Niño deste ano se mantenha ao longo do próximo inverno no Hemisfério Norte e cerca de 85% de hipóteses de se prolongar mesmo até à primavera de 2016.
Mike Halper, vive-diretor do Centro de Previsão Climática dos EUA, acredita que este El Niño vai rivalizar com os de 1997-1998, 1982-83 e 1972-73.
Ao Los Angeles Times, o climatologista do Jet Propulsion Laboratory da NASA, Bill Patzert, considerou o fenómeno como o “Godzilla El Niño”.
Mas o que é, então, o fenómeno?
O El Niño é um aquecimento da zona este do oceano Pacífico, sobretudo na linha do Equador. Num ano normal, as águas mais quentes situam-se na zona oeste do Pacífico devido aos ventos que sopram de este para oeste, empurrando as águas quentes para a Austrália e Indonésia. mas durante um El Niño, estes ventos abrandam e até podem inverter-se, permitindo a estas águas mais quentes dirigirem-se à América do Sul.
O fenómeno repete-se a cada dois anos ou sete anos, no máximo, com intensidade variável, alterando os padrões climáticos em todo o mundo, mas sobretudo nas zonas ligadas ao Pacífico, com fortes tempestades na costa oeste dos EUA, mais chuva também para a América do Sul, enquanto as chuvas normais do Sul da Ásia e Austrália dão lugar a tempo anormalmente seco.
Mass há mais: quanto mais quente o Pacífico Este, mais furacões.
Apesar de se fazer sentir em todo o planeta, na Europa o El Niño não é tão forte. “A Europa é uma região de transição, com influência de fenómenos diversos e onde o El Niño é menos decisivo”, disse ao Observador, em julho, Francisco Ferreira, professor na Faculdade de Ciências da Universidade Nova de Lisboa. O certo é que 1997 foi ano mais quente de que há registo em Portugal, no mesmo ano em que o El Niño foi mais forte.
Nesse ano, o fenómeno mediu 2,3 na escala do Índice Oceânico do El Niño, que mede a temperatura da superfície do mar no Pacífico tropical. Zero é o nível normal e qualquer medição acima de 0,5 é considerada favorável ao El Niño. Acima de 1,5 é um El Niño forte. Neste ano a escala já atingiu 1,0 no Índice. E acredita-se que a escala ultrapasse os 3.
Foram os pescadores da América latina que deram o nome ao fenómeno. Quando as águas aquecem, os peixes de água fria migram (mais uma consequência). Como o fenómeno acontecia durante a época natalícia, simbolizando o “menino Jesus”, o fenómeno ficou conhecido como o El Niño, ou “o menino”, em português.