Alexis Tsipras, o missionário antiausteridade
Foi acusado de ser o responsável pela recessão profunda da Grécia (a economia grega estava a crescer, em janeiro, e agora espera-se que caia 3%) e da destruição do sistema bancário do país. Mas foi também, contra tudo e contra todos, o grande vencedor do referendo. Por isso, por mais que a Europa e os credores se queiram desfazer do radicalismo do Syriza, é com Alexis Tsipras que terão de lidar, enquanto estiverem dispostos a manter as negociações para a resolução da crise grega e o futuro da Zona Euro e da própria União Europeia. A cartada do referendo foi arriscada. Mas com o expressivo Oxi (Não), Tsipras regressou a Bruxelas com um mandato renovado. Primeiro, já não representa apenas o radical Syriza: os partidos moderados da oposição (Nova Democracia, Pasok e To Potami) deram-lhe o seu apoio para as próximas negociações. Depois, leva com ele a vontade de 61% dos gregos, que querem manter-se no euro, mas não na austeridade. Deu um passo: mudou de ministro das Finanças. Agora quer contrapartidas: mais tempo e mais dinheiro. O que estarão os credores dispostos a dar?
Angela Merkel, a ‘dominatrix’
A chanceler alemã foi a grande derrotada do referendo grego. Não porque tenha defendido, mais do que os restantes parceiros, um acordo entre a Europa e Atenas, mas porque tem sido apresentada como a face mais visível da austeridade – ou a “dominatrix da austeridade”, como lhe chamou a revista alemã Der Spiegel. Hoje está encurralada entre uma opinião pública alemã que defende a saída da Grécia da Zona Euro, um Eurogrupo que não quer descartar a Grécia, um Barack Obama preocupado com as consequências geopolíticas de um afastamento de Atenas e… o seu lugar na História. O jornal francês Le Monde garantia, na segunda-feira, 6, ter sido pronunciado “o divórcio entre a Grécia e a Alemanha”. Mas nada está, ainda, claro. Merkel demorou a reagir ao “Não” grego do referendo. E, no fim da reunião com François Hollande, disse apenas que solidariedade e responsabilidade “não se podem desligar” e que a porta continuava aberta às propostas gregas. Com uma postura que só poderá ser de grande dureza, daqui para a frente, Merkel terá de saber lidar com a situação política interna, o seu eleitorado (que emprestou aos gregos 88 mil milhões de euros) e ainda de gerir a forma de não ficar para a História como a coveira da Zona Euro e, quiçá, da Europa.
Mario Draghi, o rico amigo dos pobres
Embora seja o menos político dos atuais atores europeus, o presidente do Banco Central Europeu revelou-se o mais político de todos eles. Tem levado os estatutos do BCE ao limite da legalidade para, através da compra de dívida, ajudar os países em dificuldade. Ao ganhar o referendo, Tsipras pediu-lhe ajuda, para poder reabrir os bancos. Draghi continuou, no entanto, na sua postura de dar uma no cravo e outra na ferradura: por um lado, reteve os lucros obtidos com a dívida grega (que Atenas reclama) e, por outro, não encerrou a linha de emergência com que os bancos gregos se têm financiado, mesmo contra títulos de dívida classificados como “lixo”. Apesar de o programa ter terminado, Draghi decidiu apertar as condições de acesso ao dinheiro do BCE, pedindo mais garantias (a que se tem chamado colaterais) pelos empréstimos de curto prazo. Se os líderes europeus se entenderem com a Grécia, sairá de cena. Caso contrário, tem nas mãos a responsabilidade (ou não) de atirar os bancos gregos ao tapete.
Christine Lagarde, o elemento descartável?
Mostrando-se intransigente e com uma certa arrogância (disse que só voltaria a negociar com “adultos dentro da sala”), Lagarde foi a primeira credora a não receber o reembolso de quase 1,6 mil milhões de euros dos gregos. Mas pior ainda é o resto. Na sua última proposta, Tsipras propunha uma reestruturação da dívida e pedia um empréstimo, agora apenas ao Mecanismo Europeu de Estabilidade – colocando fora o FMI. Ora, “a Grécia é o país que mais dinheiro recebeu, per capita, do FMI. Da história do FMI!”, garantiu à VISÃO fonte conhecedora do processo. Lagarde não quer, nem pode ser posta fora, sob pena de não recuperar o dinheiro emprestado. É por isso que não lhe resta alternativa: “O FMI vai manter-se envolvido”, garantia, dia 1, já com a Grécia em incumprimento. “É essa a missão do Fundo”, referia. Mas também não está disposta a dar mais dinheiro a Atenas. Ou não pode, de acordo com a agência Reuters: “uma vez em incumprimento, um país não pode receber novos fundos” do FMI.
Jean-Claude Junker, o construtor de pontes
Demorou a reagir à derrota europeia de domingo, 5. Não apareceu no Eliseu, onde Hollande e Merkel reuniram, segunda-feira, 6. Nesse mesmo dia, coube ao seu vice-presidente, Valdis Dombrovskis, lidar com os jornalistas, numa conferência sobre a situação. E, questionado, disse que Junker estava muito ocupado a falar com os líderes das instituições europeias. Estranhou-se que, depois do seu discurso inflamado, a apelar aos gregos para votarem “sim”, que não se suicidassem por terem “medo da morte”, se recolhesse. Junker decidiu falar sobre o processo democrático grego na casa da democracia europeia e, terça-feira, 7, deslocou-se ao Parlamento Europeu. No meio do debate, perante o protesto de alguns eurodeputados que tentavam desviar a atenção de Junker do seu telemóvel, o presidente da Comissão disse: “Parem o falatório sobre eu estar a olhar para o meu telemóvel o tempo inteiro.” Estou, disse, a “trocar mensagens com o primeiro-ministro grego.” Sinal de que o que parece ausência, por vezes não o é. O presidente da Comissão tem tentado juntar as pontas e pôr as partes a chegar a um acordo – até agora, sem sucesso.
François Hollande, o mediador Berlim-Atenas
Numa carta aberta, a esquerda francesa acusou o seu Presidente de passividade no desenrolar da crise grega. Hollande chamou, então, os críticos e esclareceu que o seu papel era o de mediar, discretamente, as relações entre Atenas e Berlim. São conhecidas as pressões a que o Presidente está sujeito. Socialista, foi eleito, em 2012, com base num discurso antiausteridade: prometia estimulo da economia e criação de emprego. Mas a segunda economia da Zona Euro não conseguiu dar o salto e a esquerda que o apoiou não quer esperar mais. Os mais críticos pedem-lhe que faça frente a Angela Merkel e lute pela reestruturação da dívida grega. Depois do referendo de dia 5, Hollande não tem saído do mesmo discurso: o da solidariedade, “porque se trata de uma questão europeia”, e o da responsabilidade, “porque é preciso superar”, “depressa”, esta crise. Discurso alinhado com Merkel, com quem reuniu dia 6, mas também com a porta aberta às novas propostas gregas.