Emma Whitehead, uma menina com 7 anos dos EUA, foi diagnosticada com uma leucemia linfóide aguda em maio de 2010.
Em abril deste ano, Emma esteve às portas da morte após uma recaída, sofrida pela segunda vez após ter sido submetida a quimioterapia, sem sucesso.
Dispostos a tentar qualquer coisa para salvarem a sua filha, os pais de Emma solicitaram tratamento experimental no Hospital Pediátrico da Philadelphia. Tratamento este que nunca tinha sido aplicado a alguém com o tipo de leucemia de que Emma sofria, e menos ainda a uma criança.
O tratamento consiste na administração de uma forma inactivada do vírus VIH (vírus responsável pela SIDA), para reprogramar geneticamente o sistema imunitário para destruir células cancerígenas.
Emma quase faleceu em reacção ao tratamento descrito, mas emergiu vitoriosa, sem vestígios de cancro, apenas dois meses a seguir.
Sete meses a seguir Emma continua em estado de remissão completa (livre de cancro). Emma foi pioneira em atingir o ansiado objectivo das novas técnicas contra o cancro, o objectivo de proporcionar ao sistema imunitário a capacidade duradoura de auto-combater a doença.
Emma foi uma de apenas 12 pacientes com leucemia avançada a receber o tratamento experimental desenvolvido pela Universidade da Pensilvânia.
Seguem-se os resultados dos demais do grupo submetido ao tratamento, apresentados no início da semana passada numa reunião da Sociedade Americana de Hematologia:
- 3 adultos atingiram também a remissão completa, 2 dos quais a situação mantém-se estável há mais de dois anos.
- 4 adultos melhoraram, mas sem conseguirem atingir o estado de remissão completa.
- 1 outro adulto foi tratado demasiado recentemente para tirar conclusões
- 1 outra criança melhorou antes de recidivar
- 2 adultos não conseguiram obter quaisquer melhorias
Ir ao fundo antes de melhorar
“O nosso objectivo é conseguir uma cura, mas não podemos utilizar essa palavra” explica o Dr. Carl June, que lidera a equipa de pesquisa da universidade que desenvolveu o tratamento.
Ele espera que o novo tratamento venha a substituir o transplante de medula óssea (um processo ainda mais complicado, arriscado e dispendioso, actualmente utilizado como última esperança no combate à leucemia e doenças relacionadas).
Em termos de limitações do novo tratamento, verifica-se um adoecimento grave do paciente (reação denominada hipercitocinemia) que paradoxalmente indica o sucesso do mesmo. Esta reação refere a um aumento da produção de químicos naturais que leva a febres e tremores violentos para além do risco de inundação dos pulmões e baixas de tensão perigosas.
Este processo quase roubou a vida a Emma após o tratamento mas felizmente a perícia de Dr. June levou à administração de um outro remédio, normalmente utilizado contra a artrite reumatóide, que estabilizou a condição da menina.
O administração do vírus VIH leva também à morte de certas células saudáveis, pelo que os pacientes ficam vulneráveis a infeções, necessitando de tratamentos regulares com imunoglobinas.
Esperança e investimento
Peritos em oncologia que não estão envolvidos na pesquisa vêem enorme promessa nos resultados (apesar de estes não serem inteiramente consistentes), devido ao sucesso evidenciado em casos aparentemente perdidos (ainda por cima numa fase tão prematura da investigação).
Especialistas prevêem também a eventual aplicação deste tratamento a outros cancros, como o da mama e o da próstata.
A equipa da universidade revela-se surpreendida pelo interesse de qualquer grande farmacêutica no seu trabalho, como é o caso da Novartis, que já se comprometeu ao investimento de $20 milhões para a construção de um centro de pesquisa no campus universitário.
A surpresa deles deve-se ao facto dos tratamentos terem de ser personalizados para cada paciente – uma estratégia dispendiosa e muito diferente dos medicamentos como o Viagra ou remédios contra o colesterol.