A Praça Tahrir está completamente ocupada pelos opositores a Hosni Mubarak e continua a encher. Apesar de o exército egípcio impor o abandono do local como condição para poder haver negociações, a ideia é rejeitada em absoluto pelos manifestantes, que garantem só sair com a demissão do presidente.
Todas as entradas para a praça estão barricadas, com recurso a barreiras de trânsito e chapas, guardadas por uma espécie de comités que se formaram espontaneamente. O enviado especial da VISÃO fala num trabalho metódico de recolha de pedras, a cargo das mulheres e jovens, que partem a calçada e amontoam depois as pedras em três ou quatro locais diferentes, prontas para serem arremessadas contra quem tente entrar na praça.
Ninguém passa sem ser revistado e se identificar, para garantir que não se infiltram polícias e outros agentes das forças de segurança. Enquanto falava com a redação da VISÃO, o repórter Filipe Fialho assistia ao espancamento de um homem, cena que se repete sempre que alguém se recusa mostrar a sua identificação (os cartões de identificação dos polícias e agentes secretos são diferente dos civis). A sorte dos que tentam infiltrar-se é sempre a mesma: são espancados e depois entregues aos militares.
Para os opositores de Mubarak que fiquem feridos nos confrontos, estão organizados dentro da Praça Tahrir seis postos médicos improvisados, que contam com a presença dos médicos e socorristas disponíveis.
Ao fim da tarde, o enviado especial da VISÃO testemunhava o aumento do número de feridos. São aos milhares, mas mantém-se firmes na ocupação da Praça Tahrir, mesmo que os curativos improvisados não escondam a violência da situação.
Jornalistas com vida difícil
Ao longo desta quinta feira, tem vindo a verificar-se alguns ataques aos jornalistas que circulam pelas ruas do Cairo. Na maior parte dos casos, são os apoiantes do regime quem mais persegue os profissionais da comunicação social, sobretudo aqueles que empunham máquinas fotográficas ou câmaras de vídeo.
Naquilo que aparente ser, fundamentalmente, uma caça aos jornalistas da A-Jazeera, os apoiantes de Mubarak intrepelam, revistam e levam para esquadra alguns jornalistas, numa clara tentativa de intimidação.
Os dois hoteis em que se concentram os jornalistas internacionais estão a redobrar, por isso, as medidas de segurança, como testemunaram os enviados especiais da VISÃO, cujo quarto de hotel foi, esta tarde, visitado pelos responsáveis da segurança, naquilo que garantiram ser uma visita para garantir que “estava tudo em ordem”.