Pedro Nuno Santos quis falar ao País antes de falar na Comissão Política Nacional, apanhando de surpresa até alguns dos seus mais próximos dentro do PS. Falou antes do Congresso do PSD e anunciou uma abstenção na generalidade e na votação final global do Orçamento do Estado, depois de um ataque cerrado ao Governo e à sua direita, sublinhando que o PS viabiliza o documento não em resultado de qualquer negociação mas sim porque o partido entende que não faz sentido voltar a eleições pouco mais de meio ano depois do Governo ter tomado posse e quando as sondagens não revelam que a ida às urnas possa ter um resultado muito diferente.
Pedro Nuno Santos fez mesmo questão de relembrar o esforço feito pelo PS para negociar com o Governo, vincando que, apesar das cedências, a AD não respeitou as linhas vermelhas dos socialistas. Ou seja, não há acordo entre os dois principais partidos e esse é um argumento usado pelo líder do PS para vincar que este voto não abre caminho a um bloco central.
“É neste momento um governo isolado. Está sozinho, mais minoritário que nunca e absolutamente dependente do maior partido da oposição”, afirmou Pedro Nuno, lembrando a forma como ficou clara a incapacidade da AD de formar uma maioria com a sua direita.
“O PS parte, portanto, para a discussão do orçamento do estado na Assembleia da República sem um compromisso com o governo”, frisou, explicando que o compromisso não é por isso com a AD, mas com os portugueses.
As duas razões de Pedro Nuno
Pedro Nuno quer que esta abstenção não seja lida como um acordo com o Governo, mas apenas como consequência de duas situações. “Em primeiro lugar, que passaram apenas sete meses sobre as últimas eleições legislativas; Em segundo lugar, um eventual chumbo do orçamento poderia conduzir o País e os portugueses para as terceiras eleições legislativas em menos de três anos, sem que se perspetive que delas resultasse uma maioria estável”, argumentou.
“É por estas duas razões, e apenas por estas duas razões, que tomei a decisão de propor à Comissão Política Nacional do Partido Socialista a abstenção na votação do orçamento do estado para 2025”, disse o líder socialista.
Pedro Nuno Santos assegurou que o PS parte para a discussão na especialidade com “liberdade”, mas voltou a garantir que o PS não contribuirá para alterar o saldo orçamental previsto no documento.
Uma lição Pedro Nuno parece ter aprendido: em declarações aos jornalistas afirmou que não se irá pronunciar sobre o Orçamento do ano que vem até ele dar entrada no Parlamento, pressupondo-se que está fora de questão uma negociação nos termos em que aconteceu este ano.
Agora, Pedro Nuno Santos prepara-se para virar a página e quer o partido concertado nos Estados Gerais. Resta saber como vai conduzir a oposição depois de uma abstenção violenta que foi de má memória para o PS no tempo de António José Seguro.