Em nome da saúde dos consumidores e da sustentabilidade do ambiente, os vinhos biológicos (ou orgânicos) constituem uma nova aposta do mercado, um pouco por todo o mundo, e Portugal não é exceção. O desafio passa por abdicar de produtos químicos, como pesticidas, herbicidas ou fertilizantes sintéticos, ao longo de todo o processo vitivinícola, sem prejudicar o sabor da bebida final. É o que já estão a fazer 13 produtores na região de Lisboa, que em 2023 duplicaram a produção e as vendas de vinho biológico, na comparação com o ano anterior, revela em comunicado a Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa.
O presidente Francisco Toscano Rico garante que a organização “está cada vez mais comprometida com a estratégia definida para o setor do vitivinícola”, no que respeita às medidas exigidas para a obtenção da “certificação de sustentabilidade”. Este “rótulo”, assim como o de produto biológico, atestam a preocupação em produzir vinhos saudáveis e sustentáveis, em linha com o “desígnio de toda a fileira agroalimentar nacional”, sublinha o responsável.
No ano passado, foram comercializadas cerca de 250 mil garrafas de vinho orgânico com origem na região de Lisboa, que se divide em nove Denominações de Origem Protegidas (DOP), uma por cada Terroir característico da região. Por Terroir (termo francês sem tradução à letra) entenda-se as especificidades de cada zona, nomeadamente quanto ao clima, solo, casta e outras características decisivas para determinar a qualidade do produto final. Numa região de viticultura Atlântica, como é o caso, “o modo de produção biológico é particularmente exigente e desafiante”, refere a nota de imprensa.
“Esta prática agrícola obriga a um planeamento meticuloso na seleção das castas mais adaptadas ao Terroir de cada parcela, bem como a uma monitorização permanente do ciclo cultural das videiras e a um domínio exemplar das melhores praticas de preservação e melhoria da fertilidade dos solos e de prevenção de pragas e doenças”, lê-se no comunicado, sendo “um dos pontos críticos ter boas uvas, sãs, no ponto ótimo de maturação e uma enologia cuidada que realce os atributos qualitativos proporcionados pelos nove Terroir” existentes na região.
€80 milhões para a transição
Para Francisco Toscano Rico, o nível de produção e vendas bio atingido em 2023 em Lisboa “foi em grande medida alavancado pelos apoios concedidos” ao abrigo do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC) para Portugal, que espera ver prosseguidos pelo Ministério da Agricultura. A ideia é converter mais vinhas tradicionais em vinhas biológicas, objetivo para o qual o Governo destinou 80 milhões de euros para a campanha de 2024/25. A dimensão mínima das vinhas que pretendem candidatar-se aos inventivos passou de 20 para 10 hectares, de forma a captar mais potenciais interessados, nomeadamente na vasta região vitivinícola do Douro.
No Alentejo, o Esporão já trabalha há muitos anos nesta transição para os vinhos biológicos e, na Região Demarcada dos Vinhos de Lisboa, estão a ser dados passos firmes no mesmo sentido. Por agora, são estas as marcas no mercado: AdegaMãe, Bio-Grape, Cas’Amaro, CPS (Carlos Pereira de Sousa), Casa Santos Lima, Chão do Prado, Quintada da Boa Esperança, Quinta da Folgorosa, Quinta de Sant’ana do Gradil, Quinta do Montalto, Quinta do Monte D’Oiro, Vale Da Capucha e Vale de Cortém.