“As revelações de ontem [sexta-feira] no semanário Expresso exigem um esclarecimento imediato e cabal do ministro dos Negócios Estrangeiros e ex-ministro da Defesa, João Cravinho, e do primeiro-ministro”, disse Paulo Rangel, em conferência de imprensa na sede do PSD do Porto.
Defendendo que a “degradação e decomposição” do ambiente político é “cada vez mais intensa”, Paulo Rangel afirmou que “o respeito” pelas Forças Armadas “exige um esclarecimento imediato” sobre a derrapagem do custo das obras do antigo Hospital Militar de Belém, sobre a qual o ministro João Cravinho foi informado em março de 2020, de acordo com o jornal Expresso.
Entre os esclarecimentos, Paulo Rangel disse que ao PSD importa perceber porque é que o ministro “ocultou o conhecimento do ofício” e o que “o levou a compactuar com a derrapagem das obras”.
Questionado se o PSD iria pedir a demissão do ministro João Cravinho, o social-democrata afirmou que cabe ao primeiro-ministro, António Costa, “fazer esse juízo” e “assumir as responsabilidades”.
“O senhor ministro dos Negócios Estrangeiros, por causa deste escândalo na Defesa que ele tinha conhecimento, e o senhor ministro das Finanças, por causa já da questão da indemnização de Alexandra Reis e agora por todas as questões que estão ligadas à situação do seu mandato na Câmara de Lisboa, estão muito condicionados politicamente. Estão fragilizados politicamente, mas cabe ao senhor primeiro-ministro fazer o juízo sobre que condições é que acha que dois ministros fundamentais do seu Governo têm para continuar”, afirmou.
Destacando que para o PSD o ministro João Cravinho “está ferido”, Paulo Rangel recusou a hipótese do PSD “cair na tentação, que alguns caem, de sacudir as responsabilidades para outros”.
“Tem de ser o Governo a assumir que fracassou”, acrescentou, dizendo que, enquanto a “degradação da situação económica e social dos portugueses é cada vez maior”, o Governo está “ocupado a gerir a sua credibilidade e sobrevivência”.
“[O Governo] está ocupado a lamber as suas próprias feridas”, referiu.
Paulo Rangel criticou ainda o antigo ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, que “afinal sabia da indemnização de Alexandra Reis”.
“Mas pasme-se, tinha-se esquecido de que sabia e de que autorizou, como se uma decisão desse tipo não tivesse de ser conversada com o seu secretário de Estado e chefe de gabinete, que também sabiam. Nada foi conversado, discutido, tudo se evaporou numa mensagem de ‘Whastapp’ entretanto redescoberta e ressuscitada”, referiu.
As críticas do social-democrata estenderam-se também ao ministro das Finanças, Fernando Medina, que, disse, “voltou ao seu mantra político habitual” de que “tudo desconhece, nada sabe, está a leste de tudo o que se passa nos cargos públicos que teve de ocupar”.
“O PSD não se conforma com este estado de apodrecimento progressivo do Governo e das instituições à frente das quais o Governo está. Nunca como hoje fez sentido aquela frase de Hamlet, ‘há algo de podre no reino da Dinamarca’, e o primeiro-ministro tem de responder por isso.”
SPC // ACL