Com este investimento — concretizado através do ‘Cluster’ do Calçado e Moda, liderado pela Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS) e pelo Centro Tecnológico do Calçado de Portugal (CTCP) — o setor pretende assumir-se como “a referência internacional no desenvolvimento de soluções sustentáveis” e, ainda, “reforçar as exportações portuguesas, alicerçadas numa base produtiva nacional altamente competitiva e fundada no conhecimento e na inovação”.
Em causa estão dois projetos distintos, mas complementares, enquadrados no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e que reúnem mais de 100 empresas, entre universidades, empresas e entidades do sistema científico e tecnológico.
Com um orçamento de 80 milhões de euros, o projeto ‘BioShoes4All’ pretende “garantir uma base produtiva nacional resiliente para posicionamento no mercado internacional”, focando-se na “inovação, diferenciação, resposta rápida e eficaz, serviço, qualidade dos produtos, capacitação e promoção” como fatores de diferenciação face à concorrência.
Já o ‘FAIST’, que terá uma dotação orçamental de 60 milhões de euros, pretende “aumentar o grau de especialização da indústria portuguesa de calçado para novas tipologias de produto” e potenciar “a capacidade de oferta das empresas portuguesas de calçado através do reforço da capacidade de fabricar médias e grandes encomendas, utilizando processos de montagem mais eficientes”.
Segundo destaca o presidente da APICCAPS, “ainda que, na última década, o calçado português tenha tido um desempenho assinalável — excluindo o período da pandemia — nos mercados externos, para onde exporta mais de 95% da sua produção, os negócios mudaram” e compete ao setor “investir numa indústria nova, para permanecer na vanguarda”.
“As conquistas do passado não são garantias de futuro”, admite Luís Onofre, citado num comunicado.
Neste sentido, o dirigente associativo destaca que o processo de afirmação do calçado português nos mercados externos “deve assentar na sofisticação e na criatividade da oferta portuguesa ao nível dos biomateriais, dos ecoprodutos, dos processos digitais e ágeis e dos novos modelos de negócio, permitindo apostar em segmentos de mercado em que a escolha se baseia mais na moda do que no preço”.
Concretamente, o projeto ‘BioShoes4All’ será dividido em cinco pilares — biomateriais, calçado ecológico, economia circular, tecnologias avançadas de produção e capacitação e promoção –, inserindo-se na ambição do setor de calçado de “induzir uma mudança radical nos materiais, tecnologias, processos e produtos”.
“O desenvolvimento e a produção de novos biomateriais e componentes, alicerçados nos princípios da bioeconomia circular e do desenvolvimento sustentável, em todas as suas dimensões, criando soluções diferenciadas, valorizadas pelos clientes e consumidores, contribuindo para catalisar uma nova bioeconomia sustentável, a valorização eficiente de biorrecursos regionais e nacionais e a descarbonização” são alguns dos objetivos deste projeto.
Acresce a necessidade de se criarem “novos conceitos de ecoprodutos de calçado e marroquinaria, assentes nos princípios da economia circular e da neutralidade carbónica, com elevada funcionalidade, processos e modelos de negócio inovadores, fundamentais na estratégia de diferenciação e criação de valor no longo prazo, e orientados para o consumidor, que aprecia o ‘design’ e a moda, deseja definir o seu produto, é informado, social e ambientalmente exigente e responsável e, frequentemente, digital”.
No que se refere ao projeto ‘FAIST’, o diretor geral do Centro Tecnológico de Calçado de Portugal (CTCP) explica que resulta da necessidade de a indústria nacional apostar na eficiência e ganhos de competitividade.
“Se, hoje, as empresas portuguesas são reconhecidas pela sua capacidade de inovação, do fabrico de pequenas encomendas de modo eficiente ou pela flexibilidade, terão agora de otimizar processos e melhorar a eficiência, para assegurar novos ganhos de competitividade”, sustenta Leandro de Melo.
Neste sentido, defende, o ‘cluster’ do calçado deverá “inovar na constituição da cadeia de produção do calçado, desde a produção de componentes, passando pela fabricação de gáspeas até à criação de unidades de montagem modular”.
Em simultâneo, importa que “aposte na produção de bens de equipamentos e tecnologias avançadas, substituindo importações e criando competências e capacidades locais tão necessárias à instalação de unidades produtivas com elevados níveis de automação e robótica”.
Reforçar a cooperação entre universidades, politécnicos, centros de ‘interface’ tecnológico e empresas, criar novas linhas de produção automáticas e robotizadas, em empresas demonstradoras, que sirvam como locais de teste e experimentação, bem como de capacitação de recursos humanos, são igualmente metas a atingir.
De acordo com o presidente do CTCP, “paralelamente ao desenvolvimento de linhas de produção integradas com elevada automação, o setor investirá também na automação de postos e processos de trabalho chave nas linhas de produção já existentes, através da criação de ilhas de automação”.
PD // CSJ