É inevitável. As taxas Euribor, principais indexantes do crédito à habitação em Portugal, sobem há quatro meses consecutivos – ainda que de forma pouco expressiva, pelo menos nos prazos mais curtos – e há razões para temer um agravamento mais célere das taxas interbancárias. Depois de seis anos de taxas negativas, o crédito à habitação vai ficar mais caro para as famílias portuguesas. Resta saber quão mais caro. Mas se é daqueles que não quer pagar para ver, então a taxa fixa pode ser uma opção.
Para já, o mercado está a descontar uma a duas subidas de 0,25 pontos percentuais na taxa de referência do Banco Central Europeu até ao final do ano. O agravamento é contido pelo atual contexto de enorme incerteza, caracterizado por cadeias de abastecimento sob extrema pressão, preços em alta e desaceleração económica, ao qual se soma agora a guerra na Ucrânia. Por outro lado, níveis de inflação persistentemente altos poderão levar Christine Lagarde a rever a orientação da política monetária, mais cedo do que mais tarde. “Com uma meta de inflação de 2%, se a inflação se mantiver nos 5%, 6%, ficarei muito admirado se o BCE não atuar de forma mais rápida e agressiva”, nota Luís Aguiar-Conraria. O economista não se compromete com números, mas lembra que, ao contrário da FED – cujo mandato inclui o controlo da inflação e o pleno emprego – o mandato do BCE é único e compreende apenas a estabilidade de preços. Nos EUA, a taxa de inflação homóloga atingiu o valor mais alto em 40 anos, em 7,9%, e já levou a Reserva Federal norte-americana a subir a taxa de juro de referência para 0,25%, em março. O mercado estima que esta taxa atinja os 2,25% no final do ano, e os 2,75% a 3% em setembro de 2023. Já na Zona Euro, onde o ciclo de subida de juros só deverá ter início no quarto trimestre do ano, a taxa de inflação bateu um novo recorde em março, nos 7,5%.