“Em Portugal há condições ambientais. Falta, obviamente, uma parte importante que tem a ver condições regulatórias. Noutros países, há já exemplos da vontade em que esta se torne em mais uma fileira tecnológica dentro das fontes renováveis”, afirmou José Pinheiro.
Segundo o responsável, que falava à agência Lusa no final de uma visita de barco ao primeiro parque eólico flutuante da Europa, instalado a 20 quilómetros ao largo de Viana do Castelo, para assinalar um ano de atividade daquele parque ‘offshore’, em Portugal, “não está previsto nenhum leilão de energias renováveis”.
Já Espanha, adiantou, terminou recentemente um procedimento idêntico que vem dar “um bom sinal de que a regulação está a ponto de ser uma realidade”.
“Está comprovado que a tecnologia funciona, com os maiores aerogeradores comercialmente disponíveis no mercado e, portanto, atingida a maturidade tecnológica [Technology Readiness Level(TRL)], faz sentido falar da ambição de continuar a desenvolver projetos, mas agora comerciais, no país e no estrangeiro”, reforçou.
Para o responsável “existem condições muitos interessantes para se fazer esse leilão” por ser uma área com “muito potencial por explorar, com vários ‘players’ internacionais interessados, mas que precisam de ambiente regulatório definido”.
José Pinheiro explicou estar prevista a ampliação do parque eólico flutuante instalado ao largo de Viana do Castelo, que está dependente dos leilões para a energia eólica.
“Internamente estamos a desenvolver projetos de ampliação, mas falta o ambiente regulatório para que as tecnologias possam competir e sejam adjudicados os megawatts necessários para desenvolver projetos maiores. A área que está delimitada no Plano de Situação de Ordenamento Marítimo (PSOM) para Viana do Castelo pode acumular entre 15 e 20 aerogeradores, mas só quando houver regulação, eventualmente um leilão para tecnologia flutuante”, especificou.
Para o responsável, apenas “a industrialização, que vem quando o mercado pede, permitirá que a tecnologia fique mais barata, para que os custos acompanhem a tendência normal da estandardização da tecnologia”.
O parque com tecnologia Windfloat é composto por três plataformas flutuantes que sustentam turbinas com capacidade instalada de 25 megawatt (MW), ligado a um cabo de 18 quilómetros, instalado a 100 metros de profundidade no fundo do mar, com capacidade para receber 200 MW de energia renovável, e que, neste momento, produz 25 MW.
Entre julho de 2020 e o mesmo mês deste ano, o Windfloat Atlantic produziu, em 3.800 horas, 75 Gigawatt-hora (GWh), o suficiente para abastecer 60.000 pessoas.
Segundo dados revelados por José Pinheiro, “a remuneração fixa da energia produzida apresenta um valor dinâmico, mas estimou uma média de 140 euros por MWh.
Junho de 2021 foi o mês em que o parque flutuante mais energia produziu, num total de 8,6 GWh, sendo que em agosto bateu um recorde com quatro dias consecutivos com um fator de carga de 48%”.
O projeto do consórcio Ocean Winds foi coordenado pela EDP, através da EDP Renováveis, e integra o parceiro tecnológico Principle Power e a Repsol.
“A Ocean Winds, da qual a EDP Renováveis é acionista, tem a ambição, após percorrer um caminho de vários anos de desenvolvimento da tecnologia flutuante eólica, de continuar com projetos comerciais de larga escala”, admitiu José Pinheiro.
“O percurso tem de ser feito à base de leilões, onde, de facto, o mercado concorre”, destacou.
Durante a visita ao parque flutuante, o diretor de projeto do WindFloat Atlantic adiantou que o consórcio está a “desenvolver projetos na Califórnia, Estados Unidos, na Coreia do Sul, para três parques flutuantes, em França, no Golfo de Lyon, este com início de operação previsto para final de 2022”.
“É um projeto muito semelhante ao de Viana do Castelo, é quase o irmão gémeo, com três unidades de 10 MW”, afirmou.
O WindFloat Atlantic é apoiado por entidades públicas e privadas e é financiado pela Comissão Europeia, pelo Governo português e pelo Banco Europeu de Investimento (BEI).
“O que este projeto pretende mostrar é que os países podem ter ‘offshore’. Este projeto veio mostrar que é possível explorar recursos em locais, até agora, inacessíveis”, referiu durante a viagem de barco, que se prolongou durante cerca de 60 minutos.
Para José Pinheiro, a tecnologia WindFloat apresenta mais vantagens do que a convencional, por ser “menos intrusiva”, por utilizar “um sistema de ancoragem”.
Outra vantagem, em relação aos parques eólicos em terra, é a de “poderem ser instalados em grandes centros eletroprodutores fora das comunidades, com capacidade energética muito mais alta do que o “‘offshore’ convencional”.
“A tecnologia flutuante é menos intrusiva nos leitos marinhos, por não implicar penetração física de grandes estruturas”, referiu.
O “projeto português” é composto por “duas plataformas produzidas na Lisnave, em Setúbal”, sendo que um terceiro aerogerador foi produzido em Ferrol, na Galiza.
A manutenção “é feita uma vez por ano e é semelhante à realizada em parques eólicos em terra”, sendo que no último ano de funcionamento foram efetuadas 513 horas de trabalho em alto mar.
“Do ponto de vista da engenharia, o projeto foi desenvolvido para ter uma vida útil de 25 anos, mas tal como o eólico em terra, quando atingir os 20 anos será avaliado o estado de desgaste do equipamento”, observou José Pinheiro.
ABC // CSJ