O concurso do 5G “não tem pés nem cabeça”. As acusações da Autoridade da Concorrência “são graves e sem provas”. A lei que protege as rendas das lojas nos centros comerciais “é desproporcional” e pode ser mesmo “inconstitucional”. Foi assim que Cláudia Azevedo foi respondendo às perguntas que lhe iam sendo colocadas durante a apresentação de resultados de 2020.
Confrontada com as acusações do regulador face a uma concertação de preços na distribuição, Cláudia considerou “absolutamente inacreditável” que a Autoridade da Concorrência “publique uma decisão sem notificar as empresas” em causa, “descontextualizando emails” e avançando com “acusações graves e sem provas”. Resultado: “Vamos todos para tribunal. Quanto tempo vamos lá andar? 5 anos, 10 anos? Vamos lutar”.
Em relação ao 5G, foi ainda mais assertiva: “Portugal tem os preços mais caros? Não é verdade. A qualidade de rede e serviços são os piores? É mentira. As margens são excessivas? É mentira. Portugal tem poucos operadores? É mentira. Este leilão não faz sentido nenhum, atrai pessoas sem nenhum compromisso com Portugal que, se não gostarem da rentabilidade, vão embora.” E considerou que este concurso “não tem pés nem cabeça”.
Já sobre a situação vivida pelos lojistas nos centros comerciais, acusou o Governo de ter possibilitado a saída de Portugal de “400 a 500 milhões de euros”, quando “já tínhamos chegado a acordo com os lojistas antes do governo”.
Revolução Digital
Ao fim de dois anos como presidente da Comissão Executiva de um dos maiores grupos do país – tem 143 mil colaboradores – a filha mais nova do fundador da Sonae foi direta na linguagem, fazendo mesmo lembrar, em alguns momentos, a irreverência do pai. Mostrou-se segura nos propósitos e confiante no caminho que traçará o futuro do grupo: tecnologia, digitalização, sustentabilidade e mais mulheres na liderança. Não por acaso, a conferência de apresentação de resultados, foi feita a partir da Sonae Tech Hub, na Maia, o edifício “mais sustentável em Portugal e que está no top 100 mundial” (garante a Sonae), inaugurado em 2019, e que alberga todas as áreas tecnológicas do grupo. Ao lado da João Dolores (CFO) e João Gunther Amaral, Cláudia Azevedo assume as rédeas de uma nova geração, que quer “cuidar do futuro do planeta”, “medir rigorosamente a pegada carbónica” para que o grupo seja “neutro em 2040”, tendo ainda inaugurado “uma das maiores centrais fotovoltaicas para autoconsumo” no entreposto da Azambuja.
A via da digitalização permitiu a flexibilidade e rapidez necessária para responder ao negócio que se alterou perante uma pandemia, potenciando a liderança das vendas online na distribuição e no retalho, compensando a obrigatoriedade de ter 1000 lojas fechadas no ano passado. Tomadas de participação em tecnológicas, como na OutSystems ou cibersegurança, potenciaram investimentos seguros. Cláudia chamou-lhe “a revolução digital” que tornou a “concorrência mundial”. E deu um exemplo: “Com as lojas de brinquedos fechadas, houve um player internacional em Espanha que vendeu mais brinquedos em Portugal do que em Espanha. Não paga impostos em Portugal, mas ganhou”. Deu importância à decisão de não terem aderido a layoffs e de terem investido 470 milhões de euros em Portugal, no ano passado.
Agora, Cláudia tem uma preocupação: “Porque perdemos tantas mulheres durante o percurso na ascensão da carreira?”. É uma pergunta para a qual quer encontrar uma resposta, pois quer ver mais mulheres na liderança. Apesar de terem passado de 34 para 36% na taxa de ocupação de cargos de comando, não estão satisfeitos e o objetivo é atingir os 40% até 2023.
Para reforçar a comunicação interna, Cláudia “passou a presença diária nas caixas de email” dos trabalhadores do grupo. “Vou muitas vezes à lojas agradecer às pessoas”, fez questão de referir, mais do que uma vez, a CEO. “Somos viciados em crescer com rentabilidade, em inovar, somos o player líder no digital. Somos abertos ao mundo e estamos sempre a visitar outros sítios para ver como se faz.
1 milhão de árvores em Mangualde
E em homenagem a Belmiro de Azevedo, a Sonae está a plantar um milhão de árvores em Mangualde. “É um investimento para compensar as nossas emissões de CO2, cuja manutenção custará cerca de 16 milhões de euros. Estamos agora a escolher o tipo de árvores, outras já estão a ser plantadas, mas com preocupações de que tudo seja anti incêndios”, contou Cláudia Azevedo, que frisou que tal não dará origem a qualquer área de negócio.
“É uma homenagem sentida ao meu pai, que sempre teve muito carinho pela floresta”, rematou.