Ofensiva alemã – Parte I
“Portugal foi muito bem-sucedido até ao novo Governo. Depois das eleições (…), [o novo Governo] declarou que não iria respeitar aquilo que tinha sido acordado pelo Governo anterior”
“Foi neste sentido que alertei o nosso colega português, porque lhe disse que se for por esse caminho iria assumir um grande risco, e eu não assumiria tal risco”
Wolfgang Schäuble, ministro alemão das Finanças, numa conferência em Bucareste na quarta-feira, 26 (citado pela Bloomberg)
A resposta portuguesa
O ministro alemão não ficou sem resposta. António Costa reagiu assim às afirmações de Wolfgang Schäuble:
“Dou sobretudo atenção aos alemães que conhecem Portugal e, por isso, sabem do que falam”
“A esses alemães dou muita importância. Quanto aos outros, naturalmente a opinião é livre e cada um segue o seu critério. Eu só costumo falar sobre aquilo que sei e nunca falo sobre outros países sobre os quais não sei nada com base em preconceitos”
“O preconceito é muito pouco inspirador para se falar com tino”
António Costa, primeiro-ministro, no final de uma cerimónia na Câmara de Lisboa, na quinta-feira, 27
Ofensiva alemã – Parte II
Meses antes, numa outra conferência, na capital alemã, Schäuble não se conteve:
Portugal vai pedir “um novo programa [de ajustamento] e vai tê-lo”
Wolfgang Schäuble, ministro alemão das Finanças, numa conferência em Berlim a 29 de junho (citado pela Bloomberg)
Minutos depois, a sua declaração foi retificada:
“Portugal não quer um novo programa e não vai precisar dele, se cumprir as regras europeias que obrigam à consolidação orçamental e à redução do défice”
A resposta portuguesa
No próprio dia, o Presidente da República “desmontou” o discurso de Schäuble:
“Isto em política chama-se pressão política ou especulação política”
“Sempre que há uma decisão [neste caso, sobre as sanções] – pode ser sobre Portugal, pode ser sobre outro país qualquer -, oito dias antes surge uma notícia ali, outra notícia acolá, uma especulação, vai haver, não vai haver. E depois uma frase que é dita, mas é retificada ou é corrigida, mas fica no ar”
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, à saída de uma cerimónia no Palácio da Ajuda, 29 de junho
Ofensiva alemã – Parte III
Vinte e quatro horas depois de Schäuble ter falado, o diretor geral do Mecanismo de Estabilidade Europeu (o fundo de resgate da zona euro e maior credor de Portugal), de origem alemã, declarou:
“Temos de ser muito cuidadosos para que a competitividade conquistada [em Portugal] com muito esforço (…) não seja posta em risco”
A reposição dos salários dos funcionários públicos “é algo que deve ser visto com preocupação”
Klaus Regling, diretor geral do MEE, na quinta-feira, 27 (citado pela Reuters)
Há uma semana, um dos arquitetos da zona euro, também alemão, considerou que Portugal segue na “direção errada”:
“Portugal não só tem desperdiçado tempo, no que diz respeito a fazer as reformas necessárias, mas também tem ido, desde que o novo governo tomou posse, na direção errada”
“Agora pagam o preço dessas políticas, que vão em sentido contrário em relação àquilo de que Portugal precisa para manter o país alinhado com a estabilidade da zona euro”
“Portugal é um caso que demonstra que todos os problemas [da zona euro] não são problemas da política monetária e de ganhar algum tempo”
Otmar Issing, ex-economista chefe do BCE e presidente do Center for Financial Studies, na sexta-feira, 21 (entrevista ao canal de TV Bloomberg)
Até à publicação deste texto, os comentários de Regling e de Issing não tinham tido resposta