A vida financeira das famílias portuguesas alterou-se, e muito, nos últimos 20 anos, refletindo-se na mudança dos hábitos de aplicação das suas poupanças. As Contas Nacionais Financeiras do período compreendido entre 1995 e 2015, divulgadas em suplemento ao Boletim Estatístico de outubro do Banco de Portugal, permitem tirar algumas conclusões.
Em 1995, os depósitos bancários e as aplicações em numerário eram o principal instrumento de captação das poupanças dos particulares (famílias e instituições sem fins lucrativos) em Portugal, representando 62% das suas aplicações. Duas décadas depois, os depósitos continuam a ser os produtos mais escolhido mas, à medida que a sua remuneração foi diminuindo, caíram para menos de metade, representando apenas 45% das aplicações totais. Durante esse período, os seguros de poupança ou de poupança reforma ganharam popularidade junto das famílias, crescendo de 11% para 19% do total. Já o investimento em ações representou uma subida de apenas 23% para 25% do total.
Os empréstimos bancários, por seu turno, subiram de 81% para 91% dos passivos das famílias no período em análise.
Uma novidade ao longo destes 20 anos foi o investimento das famílias em títulos de dívida, que aumentou de zero em 1995 para 3% em 2015. Mas foi essencialmente nos últimos anos que a descida dos juros praticados pela banca mudou os hábitos financeiros das famílias. Em 2016, as famílias entraram numa verdadeira corrida à Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV), o novo produto de dívida do Estado, esgotando as emissões de maio e de agosto. Este novo produto inverteu a tendência de desinvestimento que as famílias portuguesas vinham fazendo em títulos de dívida (pública e privada) desde 2014, como o gráfico demonstra. Só no segundo trimestre deste ano, o investimento líquido dos particulares em títulos de dívida do Estado atingiu 800 milhões de euros, de acordo com os últimos dados das Contas Nacionais Financeiras do Banco de Portugal.
Carteira de títulos de dívida dos Particulares
Legenda:
SF – Setor Financeiro (bancos)
SNF – Setor Não Financeiro (empresas não financeiras)
AP – Administrações Públicas (Estado)
Part – Particulares (Famílias e instituições não lucrativas)
Total da economia (total dos quatro setores)
Fonte: INE, Banco de Portugal