À semelhança do que já tinha sucedido noutros casos, diversos empresários e gestores portugueses voltam a fazer parte das listas de contas sedeados em offshores, desta vez nas Bahamas. A informação obtida pelo jornal alemão Suddeutsche Zeitung e divulgada, uma vez mais, pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação reúne 1,3 milhões de ficheiros relativos a 176 mil empresas e 25 mil administradores e funcionários registados no período entre 1990 e 2016. Nestas listas, surge o nome de vinte e oito portugueses como Joaquim Marques dos Santos, antigo presidente do Banif, Micael Gulbenkian, sobrinho-neto do fundador da Gulbenkian ou Pedro Morais Leitão, administrador da Oi. Todos eles referenciados como gestores de empresas com sede naquele país.
O recurso aos paraísos fiscais para contornar o pagamento de impostos mais elevados nos países de origem tem sido uma fórmula recorrente entre diversas empresas e celebridades de todo o mundo há várias décadas. Apesar de ser legal a detenção de empresas em paraísos fiscais, essa utilização deixa de o ser nos casos de empresas fantasma, criadas apenas para outros fins ilegais como a lavagem de dinheiro ou a fuga ao pagamento de impostos.
Após o atentado de 11 de setembro, o recurso às offshores para financiamento de grupos de terroristas e lavagem de dinheiro foi amplamente condenado e, nessa altura, declarado como um dos mecanismos a combater pelos governos a nível mundial. No entanto, 15 anos depois pouco mudou e os paraísos fiscais continuam a ser uma das opções mais utilizadas para operações financeiras fora do controlo dos países com regras mais apertadas quanto à origem e identidade dos detentores do capital.
Na lista agora divulgada relativa a contas nas Bahamas, registaram-se empresas geridas por figuras de destaque como Neelie Kroes, comissária europeia da Concorrência entre 2004 e 2010 e parte da equipa de Durão Barroso e Marco António, filho do ditador Augusto Pinochet, este último terá utilizado esta empresa para movimentar 1,3 milhões de dólares do pai, mas que assegura não ter feito nada de ilegal.
Um ano de escândalos
Panama Papers
Data: Abril 2016
Uma fuga de informação trouxe à luz 11,5 milhões de documentos confidenciais do escritório de advogados no Panamá, a Mossack Fonseca, com dados de mais de 214 mil empresas registadas em paraísos fiscais. Nesta lista incluem-se os nomes de chefes de estado de países como a Argentina, Arábia Saudita, Ucrânia ou Emirados Árabes Unidos. Outros políticos e seus familiares de países como Angola, Brasil, China, Reino Unido ou Rússia são igualmente nomeados bem como celebridades do mundo do cinema e futebol.
Swissleaks
Data: Fevereiro 2015
Desta vez o escândalo saltou da subsidiária suíça do banco britânico HSBC e revelou um gigantesco esquema de evasão fiscal, alegadamente promovido pela instituição. De acordo com os dados do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, mais de 180 mil milhões de euros foram movimentados através destas contas detidas por 100 mil clientes e 20 mil empresas offshore, que desta forma conseguiram escapar ao pagamento de impostos devidos nos seus países de origem.