Ainda são uma raridade. Por enquanto, os carros elétricos representam somente 1% dos automóveis que circulam no mundo. Talvez por serem caros. Muito mais do que os com motores de combustão interna. Mas o avanço tecnológico está a embaratecê-los. E as suas vendas, a crescerem a um ritmo alucinante, deixam antever uma mudança significativa na economia mundial. Talvez mesmo uma revolução. O efeito no mercado petrolífero será avassalador e começará a fazer sentir-se na próxima década, que é como quem diz já amanhã.
Mas já lá vamos, olhemos primeiro para os números. Os carros elétricos representam ainda pouco: 4,2% do total de viaturas novas registados na União Europeia em 2015. A verdade é que não será sempre assim, tendo em conta o ritmo a que as vendas têm aumentado. Segundo os dados da Associação de Construtores de Automóveis Europeus, no total da União foram vendidos, em 2015, 146 161 o que equivale a mais do dobro do número contabilizado um ano antes – uma variação de 108,8 por cento. Portugal ficou em terceiro lugar em termos de taxa de crescimento ( 274,7%) com um total de 1 083 automóveis registados.
Se bem que o universo seja pequeno, contribuindo para que um aumento reduzido de unidades registadas provoque oscilações grandes na taxa de variação percentual (como os 950% da Bulgária, ao passar de dois carros novos registos para os 21), a tendência de crescimento veio para ficar e não é um fenómeno meramente europeu.
A taxa de crescimento médio mundial terá sido de 60% no ano passado, com as vendas globais a situarem-se nos 460 mil carros elétricos vendidos, de acordo com um estudo divulgado esta quinta-feira, 25, pela Bloomberg New Energy Finance, um think tank privado dedicado à análise e produção de dados sobre as alterações do sistema energético.
O estudo estima que as vendas poderão atingir, em 2040, os 41 milhões, ou seja 35% dos total de veículos de passageiros novos comercializados mundialmente, representando um em cada quatro carros a circular nas estradas.
As implicações irão muito além do mercado automóvel. O mercado petrolífero será profundamente abalado, já que, estima-se no estudo, deixarão de ser consumidos 13 milhões de barris de petróleo por dia, que serão substituídos por 1 900 Terawatts-hora (TWh) de energia – o equivalente a 8% da procura global em 2015.
Mas não é preciso avançar tanto no tempo para que o impacto se faça sentir. Se o crescimento médio mundial se mantiver nos 60% anuais (o que é plausível segundo os analistas da Bloomberg), as viaturas elétricas tornarão redundantes, já em 2023, qualquer coisas como dois milhões de barris de petróleo por dia – o equivalente ao excedente de petróleo que desencadeou a quebra dos preços desta matéria-prima energética, iniciada nos últimos meses de 2014 e que persiste até hoje.
O motor desta alteração serão as baterias. Ou melhor, os seus preços, que, segundo o referido estudo, continuarão a declinar. Só no ano passado, os custos das baterias para carros elétricos diminuíram 35 por cento. Desde 2005 essa redução foi de 65 por cento. Isso fará com que, já daqui a seis anos, os carros elétricos comecem a ser tão ou mais acessíveis como os carros a gasolina. E de acordo com as projeções apresentadas naquele estudo, em 2040 os carros elétricos poderão custar menos de 20 mil euros (a preços atuais).
Mas não é só o preço que se paga ao concessionário que fará a diferença. Se os preços do petróleo se situaram, durante os próximos anos em torno dos 50 dólares, em meados da década de 20, ter e manter um carro elétrico será mesmo mais barato de que um a gasolina e isso sem subsídios ou benefícios fiscais.