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Ao avançar com 400 milhões de euros para garantir os direitos de transmissão e distribuição dos jogos do Benfica na Primeira Liga e da Benfica TV Nos próximos 10 anos, a NOS enviou uma forte e clara mensagem à sua concorrente PT Portugal, agora nas mãos da francesa Altice: está pronta para ir a jogo com a mesma agressividade que tem caracterizado a estratégia da Meo.
Agora a bola voltou para a Altice. Ou esta respeita a partilha de conteúdos televisivos que tem vigorado no setor ou a guerra pelos exclusivos ainda poderá estar só no começo. Para já, a NOS tratou de ter na sua posse o ás de trunfo. Os jogos do Benfica são os que têm mais audiências Nos jogos da Primeira Liga. E, como é detentora de 50% da Sport TV, que tem até 2018 os direitos de transmissão dos jogos do Sporting e do Porto, passou a controlar a fatia de leão das transmissões do futebol português.
Para quem chegou a Portugal com uma estratégia assumida de crescer através da obtenção de exclusivos Nos conteúdos, replicando o que está a fazer em França, e rompendo com um acordo implícito que até aqui vigorou entre os três operadores portugueses (Meo, NOS e Vodafone), ficou a perceber, pela reação da Nos, que “o jogo ainda só agora começou”, diz uma fonte do setor. E, ou repensa a estratégia ou esse vai ser um osso duro de roer, porque, nesta altura do campeonato, já ninguém está distraído. “Ou ficamos por aqui e regressamos à paz e ao equilíbrio que existia no setor, ou então vai ser guerra mesmo”, assim deve ser lida pela Altice a resposta da NOS.
Ao mesmo tempo, um acordo tão prolongado no tempo e de tantos milhões lança um alerta às entidades reguladoras: Anacom e Autoridade da Concorrência. Apesar de terem já defendido o fim de posições dominantes e de monopólio no mercado, que fez com que a Sport TV passasse a fazer contratos de apenas três anos, a análise que terão de fazer do acordo agora fechado entre a Nos e o Benfica virá clarificar posições. Não será por acaso que os termos do contrato estabelecem “uma duração inicial de três anos”, podendo ser “renovado por decisão de qualquer das partes” nos anos seguintes até perfazer dez épocas desportivas.
Se a média dos 400 milhões distribuídos por 10 épocas dá 40 milhões por ano, o contrato é claro que os pagamentos são “repartidos em montantes anuais progressivos”. A VISÃO sabe que os primeiros pagamentos ficarão aquém dos 40 milhões, sendo que a maior parte diz respeito aos direitos de transmissão dos jogos e o restante ao exclusivo da Benfica TV. Mas esse valor estabelece um limite à possível grande inflação que a corrida da Altice aos conteúdos desportivos poderia provocar.
Embora ainda não se conheçam pormenores deste contrato, a empresa liderada por Miguel Almeida estabeleceu um preço referencial e, com isso, protegeu também os interesses da Sport TV, detida em partes iguais pela NOS e pela Sportinveste Media, de Joaquim Oliveira, que tem os direitos de transmissão dos jogos do Sporting e do Porto até 2018. Ao perder a luta pelo Benfica, a PT poderá insistir com estes dois clubes em assegurar a transferência dos direitos para a Meo, disponibilizando-se mesmo a pagar a indemnização prevista em caso de rompimento de contrato. Mas para uma empresa que tem sido tão dura a renegociar com os seus fornecedores de conteúdos será improvável ultrapassar o preço fixado para aquele que tem mais valor no mercado, mesmo que tente usar esse conteúdo “como arma competitiva”.
Para já, NOS e Sport TV marcaram pontos à Altice. Se esta conseguiu comprar os direitos da Liga inglesa para França, a Sport TV ganhou-os para Portugal, ao assegurar a sua transmissão Nos próximos três anos.
Manter equilíbrio
O que vai acontecer agora? Os amantes de futebol vão ter de mudar para a NOS se quiserem ver os jogos do Benfica? A Benfica TV, agora esvaziada do seu principal conteúdo, deixa de ser paga? A Sport TV fica em exclusivo na NOS?
A resposta a estas perguntas não deve ser dada em breve. Se o negócio da NOS foi uma reação à ofensiva da PT, que andava a aliciar os clubes, agora a bola estará do lado da Altice. Os próximos passos da Altice/PT/Meo serão decisivos para definir o novo quadro concorrencial deste mercado.
Certo é que a NOS sempre defendeu que a concorrência entre os operadores de telecomunicações se fizesse pelo preço dos pacotes e pela qualidade de serviço. Nunca através do exclusivo dos conteúdos. Daí que todos as plataformas tenham basicamente a mesma oferta de canais. Neste contexto, a operadora (detida pela Sonae e por Isabel dos Santos) estará aberta à renegociação com as outras operadoras dos direitos agora contratualizados com o Benfica, de modo a que os telespectadores possam aceder aos seus jogos também a partir da Meo ou da Vodafone, assegurando a paz e o equilíbrio que têm vingado no setor.
É este também o entendimento do analista Artur Amaro, da CaixaBI, numa nota de análise do mercado de telecomunicações logo a seguir ao anúncio do acordo com o Benfica. “Pensamos que a NOS deverá revender os direitos da Benfica TV à Sport TV e a outros operadores”, lê-se. Deste modo, “esta aquisição servirá para resolver os problemas financeiros da Sport TV, bastante afetados”, precisamente pelo facto de o Benfica ter rompido com o canal e ter avançado para uma gestão própria dos seus jogos. Este canal tem apresentados prejuízos desde 2012. Por outro lado, “antecipou-se a um potencial controlo dos conteúdos desportivos por parte da Altice”.
Acresce que a NOS tem também 30% da ZAP, a operadora de Isabel dos Santos que transmite em Angola e em Moçambique, dois mercados importantes que ajudarão a potenciar o valor do negócio.
O papel da Liga dos Clubes
Um estudo da Liga dos Clubes citado pelo Expresso indicava que a entrada dos operadores nos conteúdos desportivos tinha “aumentado o valor do mercado doméstico para os 123 milhões de euros por ano”, e que este podia ultrapassar os 150 milhões se envolvesse direitos de transmissão noutros suportes publicitários. Entre 2008 e 2010, os direitos dos jogos “movimentaram cerca de 90 milhões, dos quais apenas 60 milhões entraram nos cofres dos clubes”.
Daí que um dos grandes objetivos do anterior presidente da Liga dos Clubes, Mário Figueiredo, tenha sido criar condições para que fosse este organismo a centralizar a comercialização dos direitos, garantindo assim algum equilíbrio proporcional entre os grandes e os pequenos clubes. Da forma como o mercado evoluir, dependerá agora a capacidade de o atual presidente da Liga, Pedro Proença, conseguir ou não alcançar este fim. “A dimensão e o potencial do mercado português são ainda maiores do que apontavam as expectativas iniciais”, declarou Pedro Proença ao jornal A BOLA.
A verdade é que a centralização da negociação dos direitos tem sido a tendência seguida na Europa. Ao ponto de em Espanha ter sido o próprio Governo a legislar a obrigatoriedade de ser a Liga a centralizar essa comercialização.
Para já, a Altice terá mais dificuldade em aliciar os pequenos clubes. Se passou a ideia de que já fechou contrato com o Boavista, informação que este tem negado, viu as portas do Benfica fecharem-se e terá certamente mais dificuldade em negociar com o Sporting ou o Porto. Agora, estes também sabem que a NOS poderá ir a jogo. Além do mais, não serão os jogos dos pequenos clubes, ainda que da Primeira Liga, que lhe valerão a diferenciação tão desejada dos conteúdos.
A entrada de leão da Altice
“O setor dos media e conteúdos representa uma grande oportunidade de crescimento para a Altice em França e em todos os países onde estamos presentes”, considerou recentemente Dexter Goei, CEO da Altice, em comunicado. Para o grupo franco-israelita, liderado por Patrick Drahi, que agora tomou conta da PT, “o desenvolvimento e produção de conteúdos são fundamentais para a estratégia de longo prazo”. Daí que a empresa esteja a apostar na compra de grupos de media como “um motor adicional de crescimento” da sua atividade nas telecomunicações. Nos media gauleses, a Altice protagonizou uma entrada de leão. A criação de um grupo ganhou forma em janeiro deste ano, quando Patrick Drahi adquiriu a empresa belga Roularta, proprietário em França das revistas L’Express e L’Expansion, depois de em 2014 ter comprado 50% de um importante jornal francês, o Libération.
No final do verão, a tensão subiu quando a Altice anunciou a intenção de despedir 125 trabalhadores no grupo L’Express-L’Expansion, fazendo justiça à polémica declaração de Patrick Drahi quando disse que não gosta de pagar salários e que, por sua vontade, paga o mínimo que puder.
Na semana passada, os sindicatos terão “salvo” 35 dos 125 postos de trabalho ameaçados de extinção pela Altice, reduzindo os despedimentos a 90 pessoas. O representante sindical Jacques Trentesaux declarou ao Le Monde: “Os dirigentes [da Altice] parecem raciocinar mais como cost killers do que como patrões da imprensa.” E lamentou que os gestores de topo da Altice tenham adotado uma estratégia do tipo de “jogo do Monopólio”, apostando na criação de sinergias entre os títulos da imprensa escrita e os canais de televisão que controlam também em França, em vez de adotarem uma estratégia editorial e económica para cada título.
Dias antes do acordo sobre os despedimentos, a redação do L’Expansion tinha recusado a nova estratégia da Altice para aquele título, considerando-a “contrária à deontologia jornalística”. Alegadamente, o projeto do novo patrão previa “uma linha editorial positiva”. Para a Altice, que por cá tem sido parca em palavras, o objetivo desta reestruturação é dar a volta aos resultados que, em 2015, deverão atingir os 4 milhões de euros negativos, e regressar ao equilíbrio em 2016.
Dentro e fora de França, a imagem da Altice continua a não ser das melhores. Duas das empresas do grupo estão entre os cinco piores pagadores daquele país. Em novembro, o Ministério da Economia francês incluiu a Numéricable e a SFR no top 5 das empresas que apresentam mais atrasos, “significativos e repetidos”, Nos seus pagamentos aos fornecedores, aplicando-lhes uma multa de 375 mil euros. O jornal Les Echos noticiou que nos últimos tempos tinham aumentado as queixas, dando conta do atraso nos pagamentos e da pressão que é colocada sobre os fornecedores para que promovam mais descontos. Em Portugal, a PT, depois de em junho ter sido comprada pela Altice, começou a atrasar os pagamentos aos fornecedores com o intuito de forçá-los a negociar preços mais baixos.
A ver vamos, por isso, se a entrada de leão não terá saída de sendeiro.