O Banco de Portugal (BdP) anunciou no domingo a separação do BES num ‘banco bom’, denominado Novo Banco, e num ‘banco mau’ (‘bad bank’) que ficará com os ativos tóxicos.
Para o responsável da ABESD, Luís Vieira, as declarações do governador do BdP, Carlos Costa, suscitaram mais dúvidas do que serenidade.
“Esperamos que os pequenos investidores e pequenos acionistas, que até terão ido ao último aumento de capital, não sejam prejudicados. E do que decorre do comunicado [do BdP] parece que vamos ser todos prejudicados”, declarou à Lusa, sublinhando que estão “muito intranquilos”.
Luís Vieira manifestou surpresa com a decisão do BdP face ao que tinha sido dito anteriormente e considerou que coloca um risco de “insegurança da informação” no mercado.
“Se os próprios reguladores e o Governo dizem que está tudo bem, as pessoas tomam as suas decisões e depois, passados alguns dias, são prejudicados por essas decisões, completamente ao contrário do que foi dito pelos responsáveis. É óbvio que há aqui um tratamento desigual, nomeadamente dos pequenos investidores e clientes que não se precipitaram, que fizeram aquilo que as autoridades recomendaram e que agora, num fim de semana, são confrontados com uma nova situação”, criticou.
Luís Vieira considerou que o problema de relacionamento dos clientes, investidores e pequenos acionistas com a marca, grupo e banco Espírito Santo, transformou-se, no domingo, num “caso de cariz político” porque “durante semanas” o governador do Banco de Portugal garantiu que “ia honrar os compromissos, que o banco tinha os seus rácios de solvência perfeitamente equilibrados, que não havia qualquer problema no banco”.
Lembrou ainda que “havia a promessa, por parte das autoridades que nada iria afetar o restante do banco”, apesar dos problemas do Grupo Espírito Santo, mas existe uma “nova realidade” para a qual os clientes do BES não estavam preparados.
“Tendo em conta toda esta nova situação temos de equacionar de quem é a responsabilidade”, salientou, acrescentando que, se até ao fim de semana “a responsabilidade seria só do banco e da antiga administração”, a partir de agora “vai haver uma potencial responsabilização de outras entidades”, eventualmente do Banco de Portugal, da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários e outros responsáveis pela decisão.
O responsável da ABESD afirmou que, ao haver uma separação entre o que é “bom” e “mau”, “todas as pessoas que são excluídas para a parte de lixo ou produto tóxico obviamente são lesadas (…) com a conivência de entidades que, ate há uns dos dias atrás diziam que estava tudo bem e que tudo estaria assegurado”.
Para Luís Vieira, “vai-se abrir uma caixa de Pandora”, alargando, e muito, o número de potenciais reclamantes do BES que não sabem agora se adquiriram os seus produtos no balcão de um banco “bom” ou “mau”.
O governador do Banco de Portugal disse, no domingo, que o Novo Banco fica com os ativos bons que pertenciam ao BES, como depósitos e créditos bons, e recebe uma capitalização de 4.900 milhões de euros enquanto o `bad bank` ficará com os ativos tóxicos.
Já os ativos problemáticos do BES, caso das dívidas do Grupo Espírito Santo (GES) e a participação no BES Angola, ficam no chamado `bad bank`. Este terá uma administração própria, liderada por Luís Máximo dos Santos, segundo o jornal Expresso, e não terá licença bancária.
O Novo Banco será liderado por Vítor Bento, que substituiu o líder histórico Ricardo Salgado à frente do BES e a quem coube dar a conhecer prejuízos históricos de quase 3,6 mil milhões de euros no primeiro semestre.
Os maus resultados foram atribuídos a “fatores de natureza excecional ocorridos” durante o exercício e foram apresentados depois de terem sido detetadas irregularidades na `holding` de topo do GES, a Espírito Santo International (ESI), que avançou com um pedido de proteção dos credores em julho, sendo seguida por mais quatro entidades do GES: Rioforte, Espirito Santo Financial Group (ESFG), Espírito Santo Financial Portugal e Espírito Santo Financière (ESFIL).